My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 56

49 Em um desses bares com nome de Tatu (Toca, Buraco...) que Ernesto Che Guevara, o próprio, teria feito uma reunião secreta em Curitiba, no auge da década de 1960, a caminho do guerrilheiro rumo à Selva boliviana, onde morreria em 1967. Quem sabe se é verdade? A essas alturas, ninguém. Nem mesmo que Che esteve por esses lados. Mas era um bar que tinha que descer as escadas, meio escondido, perfeito para uma reunião militante-misteriosa. Nada melhor para ostentar a fábula de que o símbolo da esquerda estivera em Curitiba falando para não “perder la ternura jamás” no mesmo bar que gente-normal ia. Convenhamos, militante que era militante não fazia encontro no bar, tão escancarado assim. O jornalista Cícero Cattani recorda que a troca de bilhetes entre guerrilheiros para combinar a coisa toda era na Praça Osório. Um passava pelo outro e discretamente trocavam o que tinham nas mãos. Manfredini se lembra de usar códigos. Você chegava perto de quem achava que tinha o seu bilhete, e dizia uma palavra secreta. Se a pessoa respondesse corretamente, era de confiança. O fotógrafo Alberto Viana, conhecido à época como Baiano, distribuía panfletos contra a ditadura na porta de teatros. Sendo da luta ou não, a sensação de controle era constante. “Tinha que andar olhando em cima do próprio ombro”, quem conta é Adélia Lopes. Resistir, da maneira que fosse, por mais que seja bonito, não deu a ninguém o título de herói. “A gente fez o que devia ser feito. Tentar conquistar o país em que se pudesse falar, escrever, mostrar o que é”, nas palavras de Nilson Monteiro.