My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 32
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O cartunista Dante Mendonça se lembra de um “causo” muito específico com relação à
censura e humor: fez uma charge para a Tribuna do Paraná satirizando uma música trash que
tocava sem parar nas rádios, “Aonde a vaca vai, o boi vai atrás”, com os animais desenhados
ali e coisa e tal. A tirinha passou, foi impressa. Mas aí a censura bateu, revoltadíssima, e fez
todas as edições do jornal serem retiradas das bancas ainda pela manhã, por causa da
charge. Todas.
E era tudo em nome da moral e dos bons costumes. Era válido só o que era santo e
imaculado, o diferente não está permitido, mas isso se torna uma besteira daquelas quando
por debaixo da mesa seus opositores estão sendo torturados.
Tortura pode, beijo na boca não. Matar pode, tirinha com vaca desenhada, não. Era a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade se estendendo ao longo dos anos e obrigando todo
mundo a seguir os seus gostos, as suas crenças, sob penas que não valem a pena nem serem
mencionadas.
Há quem diga que a censura era burra. Pai, afasta de mim esse cálice, cale-se. As coisas
acabavam passando. Porque quem quer vendar os outros tem uma venda muito maior nos
próprios olhos. Por uma moralidade tacanha, esquecem de ler, de apreciar, de entender, de
interpretar. Nem tudo é preto no branco. Com o perdão do trocadilho, a vida e a arte têm 50
tons de cinza.
Essa ideia de que as pessoas são passivas é de uma pretensão sem tamanho. “Doutrinação”,
eles dizem, como se ninguém fosse capaz de pensar por si próprio. Talvez eles é que não
sejam.
Outro alvo da censura foram as revistas eróticas. Quem lutou contra isso no Paraná foi a
editora Grafipar, que chegou a editar 50 títulos entre quadrinhos, fotonovelas e revistas
adultas, somando 1,5 milhão de exemplares. Mas olha que engraçado: foto de nu frontal
feminino só podia aparecer um seio, não os dois.