My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 27
A LUTA BEBE CERVEJA
N
ão houve um jornalista que não pisou, ao menos uma vez, no Bar Palácio.
Generalizações à parte, se cabe a um lugar o título de “reduto de jornalistas”, é lá.
Fundado em 1930 na Barão do Rio Branco, é do tipo folclórico e tradicional. Só foi mudar de
endereço nos anos 90, para a André de Barros, logo ao lado, onde está até hoje. A Barão era
a mesma rua que abrigava a redação do jornal O Estado do Paraná, o Estadinho, e por isso
acabava sendo de lei fechar o expediente nas mesas de madeira do Palácio. Isso foi antes do
Estadinho mudar de sede e migrar para as Mercês, onde morreu em 2010.
Não era o mais barato, mas o importante era estar junto. Além disso, incontáveis reuniões do
Estadinho ocorreram no Palácio, não na redação. Era como se o bar fosse uma sala, um
escritório, um anexo – extensão. Pra que fazer reunião no jornal se a gente pode fazer no bar?
É só descer a rua, afinal de contas.
E esse foi o combinado daquele dia entre alguns repórteres e Manfra, que na época não
estava no JB, mas em O Estado do Paraná. Entre os jornalistas, Adélia Maria Lopes,
mato-grossense que veio para Curitiba estudar Jornalismo e Ciências Sociais (como boa
libriana, não conseguiu se decidir por um só). A ideia era discutir uma cartilha de redação no
Palácio. Mas aí o Manfra deixou a reunião pra lá e foi assistir a um jogo do Atlético
Paranaense, assim, “sem avisar ninguém”.
Adélia ficou doida da vida e quando ele finalmente apareceu, soltou um palavrão. Manfredini
a demitiu na hora. “Você manda o chefe para a puta que pariu... Por mais liberal que você
seja, você está sujeita a ser demitida”, conta ela. A redação inteira tomou as dores de Adélia.
Organizaram uma outra reunião no Palácio, chamaram a moça e fizeram-na ser
recontratada. É engraçado que a vida dos jornalistas acontecia quase como que 50% na
redação e os outros 50% no bar. Até as reuniões!
E olha só que coisa do destino, Adélia e Manfredini já foram casados. “Essa história foi antes
ou depois do casamento?”, pergunta a curiosidade. “Antes. Daí eu me casei por vingança”,
brinca.
26