My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 20

19 A noite também permitia que jornalistas de diferentes redações se encontrassem. Sem ciumeira. Era uma época de ouro, em que repórter trocava de jornal como quem troca de roupa. Era difícil ficar desempregado. Na verdade, ninguém ficava. Se saísse de um jornal, em questão de dias era contratado em outro. Por isso todo mundo era colega e partilhava pauta e coisa e tal. Mas mesmo assim, alguns adendos curiosos: o pessoal do Jornal do Brasil, sucursal que ficava próxima à Praça Santos Andrade, carregava fama de ostentação, porque os repórteres tinham menos pautas para fazer por dia e recebiam mais do que os repórteres de jornais paranaenses. Só andavam de terno, pra cima e pra baixo. A boemia também era diferenciada. Jornalista do JB ia encher a cara no bar do Hotel Mabu – bar de hotel é coisa fina… – nas costas do editor-chefe. Era de uma garrafa de uísque pra cima noite adentro. O Mabu fica na Praça Santos Andrade, aquela que ostenta o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná e o Teatro Guaíra, dois cartões-postais de Curitiba. O JB já foi chamado de Jornal da Condessa. Sua trupe ia no Mabu e na pizzaria Scavollo. Chique. Teve a vez em que Manfra e uns amigos se embriagaram de uísque por lá e terminaram a noite assistindo a desenho animado na casa de um deles. No dia seguinte, chegaram amassados, com cara de ressaca na redação. Ninguém falou nada. Só umas risadinhas. Antes que alguém pergunte, essa era uma coisa normal: chegar de ressaca ou até mesmo embriagado para trabalhar no dia seguinte. Lava o rosto com água gelada e pronto. Falando em terno, nos idos de 1960, quem andava sempre de terno também eram os repórteres da Gazeta do Povo. Mas era diferente do terno mais chique do JB, porque eram uns ternos cheirando à naftalina, com ombreiras, coisa já ultrapassada, de outras épocas. Dava pra reconhecer de longe. Repórter do Estadinho era mais hippie. Os “sujinhos”, carinhosamente chamados. Calça boca de sino, mini-saia, a coisa toda. Ah, os anos 1970! Aliás, era um tempo de revolução. Homem de cabelo comprido, mulher de cabelo curto, o início do uso dos anticoncepcionais, liberdade sexual e feminina, quando isso assustava as senhorinhas descendentes de alemães da capital paranaense.