My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 14
13
Figuras de nem tão boa reputação assim passeiam pela noite, se esquivam, se escondem, se
mostram, se abrem. Os sete pecados se agudam. A liberdade, a libertinagem. Não só.
Algumas coisas que acontecem quando o sol se põe são agregadoras – é lá que se cruzam os
amores e as traições, onde se expõem as feridas, as brigas de faca e palavra. É lá que se fala
de política de forma visceral e se senta à mesa com o inimigo.
Na noite estão os bares, antros de paixão e poder disfarçados em pequenos muquifos de
azulejos brancos. Na noite estão os bêbados na rua, tomando litros e litros de cerveja barata.
Na noite estão as boates, as prostitutas, os poetas. A vida acontece e sempre foi assim. Há
alguma coisa sobre a noite que acolhe os desabrigados pela vida. Herdeiros, filósofos,
intelectuais, músicos – há um consenso que a noite une as pessoas - e entre todos, jornalistas.
Rato de bar, à toa na vida, boêmio desde sempre, embora cada geração julgue a anterior
muito mais que a sua própria. Jornalista está sempre junto de outros jornalistas, porque o
amor pelas palavras, pela entrevista, pela checagem e pela coisa toda é maior do que o que
se tem por uma profissão qualquer. No auge do jornal impresso, havia uma coisa ainda mais
especial em jornalista se reunir no bar noite adentro.
Olha: o jornal fechava e lá, depois da meia-noite, começavam a rodar as rotativas, as
máquinas espalhafatosas, e ficava tudo pronto só nos altos da madruga. Os repórteres, com
um chapeuzinho embaixo do braço, saíam da redação meio perdidos, em bando, num tempo
que quase ninguém tinha carro e dinheiro.
Reza a lenda que as redações eram esfumaçadas e que todo mundo fumava enquanto
batucava na máquina de escrever. Quase todos fumavam feito chaminé, a fumaça misturada
com o bafo de frio que a gente faz com a boca quando o nariz congela. Iam para o bar porque
o bar acolhe, esquenta, e lá podiam esperar o jornal sair pronto, impresso, quentinho,
cheirando a tinta, com as notícias que escreveram até altas horas.
Tem quem se lembre de ir buscar o jornal recém-impresso para exibir aos garçons do bar
quando tinha um furo de reportagem assinado por aquelas páginas. Outros, de que só pegar