My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 50
43
background é esse que assusta por ter nome de di-ta-du-ra, coisa que não sai da cabeça nem
com uma dose de conhaque.
Foi uma época cheia de emoções mesmo, dos biquínis aos festivais de música. Vira e mexe
alguém chegava com um violão no boteco e começava a cantar Pra não dizer que não falei
das flores, sob aplausos e olhos cheios de lágrimas de quem acredita que as flores vencem o
canhão.
Há quem diga que resistir no bar é coisa da “esquerda festiva”, ou caviar, como queiram. Na
falta de cão, se caça com gato: quando não há mais jeito de lutar, a gente encontra força onde
dá. E a força do cotidiano é essencial para a sobrevivência.
Meiaoito, Angeli
A rua quase que tem vida. É na Riachuelo que rodam as bolsinhas das prostitutas, na XV que
se multiplicam os pedintes. Era na Boca Maldita que aconteciam os protestos quando ainda
podia protestar – antes de 1968.
Já não era mais a época das boates, a Marrocos do Rei da Noite, o Paulo Wendt, citada na obra
de Dalton Trevisan, e a 1810 ficaram na década passada. A coisa era sentar no balcão e
conversar, ainda que sentissem falta de assistir às bailarinas argentino-paraguaias
rodopiando. O Bar do Luiz foi o primeiro a colocar mesas na rua – imagine se soubessem que
só nos anos 2010 Curitiba ia virar oficialmente a terra das prainhas, onde todo mundo só se
encontra pra beber na calçada.