23
A principal razão por que decidi apoiar este programa de apadrinhamento da Helpo, foi o facto de estar vocacionado para a Educação. Acredito que é através da Educação, que se conseguem combater todas as“ guerras”. Longe estava eu de imaginar que haveria a possibilidade de participar numa viagem de padrinhos e de conhecer a minha afilhada. Foi uma experiência enriquecedora, na medida em que conheci outros padrinhos- pessoas com quem partilhamos a vontade de ajudar o próximo-, bem como a equipa da Helpo em São Tomé, que nos recebeu como se recebe família.
O trabalho da Helpo em São Tomé, que tivemos oportunidade de conhecer, é impressionante, com intervenções em vários sectores da vida santomense. No entanto, as pessoas que fazem parte da Helpo, são ainda mais impressionantes. Fazem do ajudar os outros a vida deles, sempre com um sorriso no rosto, com boa disposição e leveza, fazendo parecer fácil aquilo que nem sempre o é. Senti-me uma privilegiada por poder partilhar um bocadinho do dia a dia deles e de poder contribuir de alguma forma para que continuem a fazer a diferença.
Conhecer a minha afilhada foi um misto de emoções. A Damilza é muito tímida. Acho que nem falou de todo. Só uns sussurros. E estava desconfortável, não por mim, mas por ela. Sabia que, provavelmente, seria uma experiência muito estranha para ela. E não queria, de forma alguma, que este encontro tivesse algum tipo de impacto negativo nela. Depois veio o abracinho, que não tinha a certeza se iria acontecer, e quando, à minha primeira tentativa de desfazer o abraço, ela não largou, não consegui conter a emoção e as lágrimas apareceram. É o tipo de emoção que não consigo descrever. É uma mistura de muita coisa. Foi muito bonito. Toda a experiência foi isso mesmo, muito bonita. Trago São Tomé e as suas pessoas no coração.
Esta viagem não foi só até um outro lugar. Viajámos no tempo em São Tomé. Vimos as crianças desconhecendo um futuro que poderia esperá-las, mas vimo-las também antecipando essa possibilidade com o apoio dos padrinhos.
E testemunhar o encontro destes generosos padrinhos com as crianças, que, à distância próxima, protegem, foi das coisas mais bonitas a que pude assistir. A ternura dos pequenos gestos de aproximação, a hesitação cuidada até ao abraço desejado, a comoção reverberante que, bem sei, ainda hoje os toma. Porque também assim foi comigo na visita que em tempos fiz à minha afilhada em Moçambique. Mas, desta vez, entre outras missões, tive como propósito ser ponte entre os meus queridos filhos, Pedro e Francisco, de 17 e 14 anos no momento da viagem, e as suas pequenas afilhadas, Cleyse e Nailde, de nove e sete anos. Elas comigo, na pequena escola de Santa Catarina tão longe do mundo deles. Eles em Lisboa, nas ruas largas que pequenas são quando mais nada se conhece. As imagens deles e delas, que a modernidade permitiu, espelharam reciprocamente a alegria de um encontro inesperado( não tínhamos planeado a videochamada e os meus filhos não estavam à espera de as ver ou de poderem falar com elas, afinal tão longe aqui ao lado). O contentamento deles e delas, nos instantes de uma conversa para sempre, são hoje um bem precioso.
Possibilitados pela incrível Helpo, dois adolescentes cuidam, de algum modo( de um bom modo), de duas crianças. Os meus filhos são sementes de futuro para elas. As meninas em São Tomé são sementes de empatia neles. Uma lição aconteceu.
Rute Ribeiro
Maria Gonçalves