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EDITORIAL

Caminhos e pontes !

Estoril , Joana Lopes Clemente

Ao fechar o ano de 2024 , olho para os artigos que esta revista revela , penso nas propostas que eles apresentam e no tanto que os nossos projetos têm conseguido realizar . Não consigo deixar de pensar no tanto que não tocam ; nem os nossos projetos , nem quaisquer outros .

O nosso caminho é um caminho de construção : na educação , na alimentação escolar , no acesso à tecnologia , na formação e prevenção de comportamentos de risco e mesmo na emergência , em todos os seus semblantes . É , sempre , um caminho de construção , alimentado pelo que sabemos , e pela esperança de que amanhã esse caminho se faça mais curto , até lhe vermos a meta , até deixar de haver caminho , e o passo seguinte seja fechar a porta , com a sensação de dever cumprido .
Caminhamos assim , mas não vemos o fundo ao caminho . E , nestes tempos difíceis , em que as catástrofes naturais , as convicções polarizadas de todos e de cada um , as sociedades fragilizadas e os laços entre as pessoas ( tantas vezes mais ténues do que laços ) se atravessam diariamente diante de nós com um impacto muito significativo naqueles com quem e por quem trabalhamos , esse caminho , esse encurtar do caminho , parece longínquo . Enquanto não se faz curto , contrariamos a linguagem do afastamento com as pontes .
Esta revista : mais uma ponte ; os projetos que procuram atribuir relevância à educação e escolarização dos alunos em Moçambique , mesmo em tempos de emergência , e recusando-se a dar à educação um lugar de menor destaque do que aquele que lhe pertence : uma ponte ; os projetos que colocam as pessoas em posição de aceder a melhores condições de vida através do acesso à energia , nomeadamente na escola : uma ponte ; os projetos que teimam em não deixar esquecer que o desenvolvimento pleno do potencial das crianças só se conseguirá atingir com um bom desenvolvimento cognitivo e que isso não se faz sem uma nutrição adequada : outra ponte ; o trabalho com grupos de risco , mostrando-lhes que têm em si todos os sonhos do mundo , apenas adormecidos , e que com ajuda podem despertar um deles e procurar vivê-lo : outra ponte ; o crescimento do apoio às famílias de contextos mais desafiantes à porta da nossa sede , em Cascais , muito para além do apoio ao estudo : outra ponte .
E depois há as pontes que nos lembram que a teimosia em cultivar a empatia não larga alguns daqueles que sempre nos acompanham e nos lembram qual a nossa linguagem comum . Uma visita de amigos e padrinhos ao terreno , com uma família de três gerações a percorrer as aldeias onde trabalhamos e onde parece que falta tudo , e é lá onde encontramos a raiz da nossa própria humanidade .
Ao fechar o ano de 2024 , olho para a nossa revista , e vejo o longo caminho percorrido , o longo caminho por percorrer , e as pontes que nos ligam a todos !