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 desabafos do dia-a-dia, as pessoas cumprimentam-se e falam como se fossem vizinhas, vendem fruta, ajudam no transpor- te dos sacos mais pesados, trazem recados de uma localida- de para outra, facilitam o acesso nos dias de chuva, levando as pessoas para mais perto do seu destino, param para com- prar pão nos vendedores de rua… Apesar das dificuldades, esta forma de estar torna tudo mais leve! Chegada à Mediateca, o trabalho divide-se entre colaborar na organização dos materiais, tornando este equipamento mais acessível aos alunos, e trazê-los a este espaço, desper- tando o seu interesse pelos livros ou, pelo menos, abrindo portas a uma curiosidade que sabemos que já existe! Numa fase inicial, planeei um conjunto de atividades que me pareceram apelativas para crianças destas idades, baseadas na exploração das histórias e na estimulação da criatividade. Passado algum tempo, percebi que a necessidade dos nossos pe- quenos leitores passa mais por ouvir uma história, por poder sentir um livro nas mãos, por disfrutar do prazer de virar as páginas, por ver os desenhos, por juntar algumas letras para descobrir as palavras ou mesmo por ler uma história completa! Assim, o papel das atividades ganhou sen- tidos diferentes, nomeadamente, o de ajudar a explorar este mundo novo dos livros e, assim, dar a conhecer este espaço aos alunos, permitindo que o explorem e percebam para que serve, com a ajuda dos professores. Senti que, para usufruírem das histórias contidas nos livros desta Mediateca, estes meninos tinham de se apropriar deste espaço, tinham de torná-lo seu para que o pudessem cuidar. Aqui o desafio tem sido grande, mas o retorno vai surgin- do não só quando se sentam a ver um livro, como também quando o arrumam na estante depois de o usarem! Às quintas-feiras, antes ou depois das aulas, é dia de “Hora do Conto” onde são contadas histórias que apelam ao ima- ginário e que são depois ilustradas por cada criança! Aqui tenho aprendido muitas coisas: que as bruxas são “feiticei- ras que fazem feitiços”, que na praia os castelos de areia são “bolinhos com casca de côco” e, muitas vezes, uso algumas destas ideias ou expressões para lhes chegar mais facilmen- te enquanto conto um conto. Dos dias na Mediateca guar- do a imagem dos rostos curiosos das crianças a ouvirem as histórias, a escolherem e a desfolharem os livros. Guardo as conversas com jovens mais crescidos! Guardo também, para mim, a satisfação de partilhar com eles o gosto por explora- rem o mundo dos livros! perto da vila da Trindade, capital do distrito de Mé-Zóchi, que recebe estudantes do 9º ao 12º ano de várias comunidades envolventes, algumas distantes da escola. Aqui o trabalho é colaborar com o grupo de professores da Ação Social Escolar na dinamização de um grupo de jovens, maioritariamente, raparigas. A partir de uma preocupação com o desenvolvimento emo- cional dos jovens, manifestada pelos professores, nasceu a ideia de criar um espaço de reflexão e partilha onde possa- mos trabalhar competências emocionais através de conver- sas, jogos e dinâmicas de grupo. Esta atividade apaixonou- -me de imediato, pela atividade em si, pela utilidade que tem para as jovens e pelo en- volvimento e entusiasmo com que foi re- cebida pelos professores, bem como pelo empenho que têm colocado nela. Estou a escrever-vos depois das primei- ras duas sessões (uma com cada grupo), onde o desafio foi ultrapassar as barreiras da comunicação – sim, embora falemos a mesma língua, a linguagem que utiliza- mos e o sotaque exigem uma adaptação! Sinto, muitas vezes, que utilizo palavras a mais para me expressar! “Quebrar o gelo” habitual do primeiro contacto e estimular a participação dos alunos, tal como focar essa mesma participação nos objetivos da sessão são três desafios sempre presentes, mas o entusiasmo e as ideias não faltam… e, por isso, a vontade é a de estender o final do dia por mais algumas horas, para ouvir tudo o que têm a dizer! Nestas sessões o feedback dos alunos foi muito positivo, sen- do que estavam numa grande expectativa inicial, por não co- nhecerem nem saberem bem o que esperavam deste espaço. No final mostraram-se satisfeitos e com vontade de conti- nuar! Saí de coração cheio… a sentir que é por aqui o cami- nho, o caminho de um Futuro Leve-Leve. “a necessidade dos nossos pequenos leitores passa mais por ouvir uma história, por poder sentir um livro nas mãos (...)” Futuro Leve-Leve. Entretanto, começo agora outra atividade no Liceu Maria Manuela Margarido, na vila da Trindade, onde a Helpo apoia, através do Programa de Apadrinhamento de Crianças à Dis- tância, um conjunto de jovens no “Futuro Leve-Leve”. Im- porta dizer, que se trata de uma escola secundária recente,