Muitas Mãos: Antologia Literária 2014 | Page 36

GENNARO FATTORI – O BEIJO DA MORTE Homero agora descia as escadas aos tropeços, como se fosse seu último dia de vida; se arremessava para frente, pulando vários degraus; seu tornozelo doía a cada impacto com o solo. O motivo desse desespero vinha da vista através da janela embaçada de seu escritório. Havia visto sua futura esposa ser arremessada a três metros de distância, o asfalto estava úmido, então sua amada deslizou pelo chão, deixando algumas partes proeminentes do corpo em carne viva. Ao chegar à rua, a cabeça de Homero latejava e a adrenalina ocupava seu peito. O sangue corria como um rio sem afluentes sobre a testa dela, e os olhos, ainda com um pingo de vida, fitavam Homero que, em prantos, ainda incrédulo, tentava salvar sua amada (só faltava descobrir como, era visível o desespero em seus olhos). Quando se tocou que não havia mais nada a fazer, simplesmente deixou sua face cair sobre os seios de sua prometida. O coração dela já estava inativo, enquanto o dele batia tão forte que se podia ver o movimento em seu tronco. Só levantou a cabeça quando começou a escutar o som agudo da ambulância dobrando a esquina. Antes de ela chegar, ainda deu uma olhadela para o corpo estirado no chão e beijou a face translúcida de sua mulher. E esse foi o último e mais dolorido beijo qu