ELENA SOUZA – ÚLTIMO GRITO
Terno era o que sua mãe queria que usasse naquele dia, mas não era o que ele
usava realmente, não, tinha um moletom e com o pé no acelerador finalmente acabou
sua dor. O gosto doce de lágrimas, álcool, adrenalina. O amigo, meu amigo também,
sentiu sua falta na cama ao lado. Ele já sabia, todos haviam de saber que ele se fora.
O menino que terno nunca usaria esperou seu aniversário para sua morte; em janeiro,
onde mora era frio, neve, álcool mais uma vez, toque de seu celular, toque de sua mão
no volante, decidido. Tudo a sua volta girava até que colidiu na árvore. Agora sua
mãe grita. Grita que ele deveria estar aqui e não no frio país ao norte. Grita porque
sabe que parte da culpa era sua. Eu grito também, mas não sinto tanto sua falta
quanto imaginei. Você fora na verdade uma ideia, um exemplo, uma pessoa que me
fez querer pisar no freio que seu pé de acelerador nunca conhecera.
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