Muitas Mãos: Antologia Literária 2014 | Page 14

ELENA SOUZA – ÚLTIMO GRITO Terno era o que sua mãe queria que usasse naquele dia, mas não era o que ele usava realmente, não, tinha um moletom e com o pé no acelerador finalmente acabou sua dor. O gosto doce de lágrimas, álcool, adrenalina. O amigo, meu amigo também, sentiu sua falta na cama ao lado. Ele já sabia, todos haviam de saber que ele se fora. O menino que terno nunca usaria esperou seu aniversário para sua morte; em janeiro, onde mora era frio, neve, álcool mais uma vez, toque de seu celular, toque de sua mão no volante, decidido. Tudo a sua volta girava até que colidiu na árvore. Agora sua mãe grita. Grita que ele deveria estar aqui e não no frio país ao norte. Grita porque sabe que parte da culpa era sua. Eu grito também, mas não sinto tanto sua falta quanto imaginei. Você fora na verdade uma ideia, um exemplo, uma pessoa que me fez querer pisar no freio que seu pé de acelerador nunca conhecera. 14