deixou escapar uma risada.
- O que é? - ela disse, irritada.
- Nada, nada - ele respondeu, aquele brilho no olhar que ela já não via há
algum tempo.
Ela ergueu as sobrancelhas. Não ia desistir tão fácil.
- Ta bom, ta bom! - ele disse com um sorriso - eu tava prestes a fazer uma
coisa, mas você iria me bater, provavelmente.
Ela cruzou os braços e bateu a sola das botas no chão, exasperada.
- Se você não me disser agora sobre o que você tá rindo, aí sim eu vou te
bater!
Ele riu de novo. Enrolou os dedos na manga do casaco, e por um instante ela
achou que ele ia manter o segredo, e então ela teria que arrancar a verdade à
beliscões.
Mas então ele a beijou. Bem rápido. Ela quase nem sentiu, mas quando ele se
afastou, deixou uma sensação formigante nos seus lábios, como um choque elétrico.
Ela o encarou fixamente, surpresa.Então a garota deu um soco nele.
- Ai! - ele berrou. Seu rosto estava escarlate, mas ele ainda estava sorrindo Eu sabia!
A garota deixou escapar un sorriso. Naquele momento ela agradeceu pelas
sombras que encobriam seu rosto.
Talvez, bem talvez, as coisas dessem certo. Talvez a garota e o garoto
pudessem ser o que eles queriam ser. O futuro, assim como a noite, é um mistério.
Mas naquele exato momento, eles queriam ser apenas o que realmente eram: um
garoto e uma garota, sentados nos degraus da porta dos fundos de um café lotado, o
rosto vermelho e um sorriso discreto.
E de repente, as estrelas brilhando sobre eles pareceram muito mais bonitas
que as luzes das casas ao redor.
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