Muitas Mãos: Antologia Literária 2014 | Page 10

deixou escapar uma risada. - O que é? - ela disse, irritada. - Nada, nada - ele respondeu, aquele brilho no olhar que ela já não via há algum tempo. Ela ergueu as sobrancelhas. Não ia desistir tão fácil. - Ta bom, ta bom! - ele disse com um sorriso - eu tava prestes a fazer uma coisa, mas você iria me bater, provavelmente. Ela cruzou os braços e bateu a sola das botas no chão, exasperada. - Se você não me disser agora sobre o que você tá rindo, aí sim eu vou te bater! Ele riu de novo. Enrolou os dedos na manga do casaco, e por um instante ela achou que ele ia manter o segredo, e então ela teria que arrancar a verdade à beliscões. Mas então ele a beijou. Bem rápido. Ela quase nem sentiu, mas quando ele se afastou, deixou uma sensação formigante nos seus lábios, como um choque elétrico. Ela o encarou fixamente, surpresa.Então a garota deu um soco nele. - Ai! - ele berrou. Seu rosto estava escarlate, mas ele ainda estava sorrindo Eu sabia! A garota deixou escapar un sorriso. Naquele momento ela agradeceu pelas sombras que encobriam seu rosto. Talvez, bem talvez, as coisas dessem certo. Talvez a garota e o garoto pudessem ser o que eles queriam ser. O futuro, assim como a noite, é um mistério. Mas naquele exato momento, eles queriam ser apenas o que realmente eram: um garoto e uma garota, sentados nos degraus da porta dos fundos de um café lotado, o rosto vermelho e um sorriso discreto. E de repente, as estrelas brilhando sobre eles pareceram muito mais bonitas que as luzes das casas ao redor. 10