INTRODUÇÃO: “MUITAS MÃOS”... MAS DE QUEM?
Este pequeno livro é uma amostra da criatividade, da boa vontade e, por que não
dizer, da coragem de seus autores, alunos(as)e egressos do ensino médio da Escola
Autonomia. A ela devemos um especial agradecimento pelo apoio nesta empreitada, que
não se resumiu a fazer a impressão do material, mas que metodologicamente concede a
nós, professores e alunos, a liberdade intectual necessária a esse tipo de trabalho. Apesar
de sua simplicidade, esta publicação pretende ser a primeira de muitas. Material
certamente jamais faltará. Neste número, por exemplo, além das contribuições
espontâneas [passamos o chapéu e encheram-no de literatura], que transitam entre o
conto, o poema, a crônica e a prosa poética, teremos algumas produções bem divertidas
não por seu gênero ou conteúdo, mas pelo procedimento que as gerou. Foram criadas a
partir de experiências de escrita automática e fluxo de consciência inspiradas no
Surrealismo [um movimento artístico vanguardista do início do século XX]. Como
assim? Simples: definimos um tempo de 2 minutos; escolhemos uma palavra geralmente
desconhecida de todos e estabelecemos uma única regra: não parar de escrever em
hipótese alguma. Valia tudo: repetir palavras, cortá-las, ignorar-lhes a ortografia,
amontoá-las umas atrás das outras sem nenhuma lógica, escrever palavrões [que depois,
para evitar constrangimentos aos possíveis pequenos leitores, acabamos censurando],
enfim, tudo mesmo – exceto parar! Depois disso, claro, permitimo-nos algumas
lapidações, já que o objetivo era também a fruição do leitor. A ideia era a de repetir as
experiências dos surrealistas, deixando o inconsciente livre para se manifestar na escrita
com a mínima interferência possível do raciocínio lógico. Apesar da aparente dificuldade
de muitos no começo, alguns se empolgaram tanto com o conteúdo descoberto lá no
fundo de suas próprias mentes que acabaram tornando esse exercício uma fonte pessoal
de despejo de emoções. “Professor, eu ando fazendo isso em casa quase todo dia. É
muito bom e bem divertido mas às vezes sai cada coisa assustadora”, disse uma aluna
alguns dias depois de sua estreia na brincadeira. Mas que alívio saber que essas coisas
assustadoras saíram da toca e foram descansar na folha branca, não?
Apesar de alguns dos textos terem sido estimulados por exercícios em sala, eles
são fruto de um único trabalho: aquele que transformou uma imaginação fértil em linhas
escritas, ou seja, o esforço criativo das pessoas que aqui escrevem. Deve ser deles o
grande mérito: este livreto, afinal, não existiria sem suas produções.
Leiam, divulguem, comentem com os colegas e com os autores. Assim como
agora os ouvimos, eles vão gostar de ouvir nossa voz também.
Um abraço.
Prof. Sandro Brincher – Literatura.
Florianópolis, novembro de 2014.
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