Mod.1 História Cederj 1 | Page 30

30 :: H ISTÓRIA :: M ÓDULO 1 Renascimento Um tempo de mudanças Agora, vamos pensar um pouco em todas as mudanças ocorridas no cenário europeu que estudamos neste capítulo. Já discutimos o desenvolvimento do comércio na Europa e o crescimento das cidades. Também registramos o surgimento de um importante grupo social, a burguesia, com um novo estilo de vida diferente da nobreza e que alcançou uma posição importante na sociedade. E vimos de que maneira os reis conseguiram centralizar o poder político em suas mãos ao mesmo tempo em que a nobreza teve que buscar novas formas de manter sua posição superior. São muitas transformações. Novas informações vindas de lugares distantes, onde os europeus chegaram pela primeira vez. Novos produtos, cheirosos, bonitos, que invadiram as cidades e despertaram a cobiça dos consumidores. Novas profissões e conhecimentos que se desenvolveram – como a matemática e a contabilidade, para organizar negócios feitos à longa distância ou em grande quantidade. Novos contatos entre as pessoas, a agitação da vida urbana, o aumento do número de escolas. Quais foram os efeitos de todas essas transformações no pensamento das pessoas? É o que vamos analisar agora. O período do século XIV ao XVI foi marcado por um grande número de invenções e novidades, frutos da criatividade da mente humana. Foram criadas novas técnicas de exploração agrícola e de fundição de metais, de construção de navios mais rápidos e resistentes, de armamentos de guerra. O surgimento da imprensa facilitou a publicação de livros e incentivou a divulgação das ideias. Muitas vezes, o estímulo à criatividade estava diretamente ligado à necessidade de fortalecer o comércio – como no caso de novas técnicas, que permitiam maior produtividade agrícola, e das armas, que podiam ajudar um Estado a vencer guerras e conquistar mercados. Muitos homens foram contratados por empresas comerciais e governantes para criar tecnologia e produtos mais avançados. Nesse trabalho, esses “inventores” desenvolveram um método, ou seja, uma maneira de fazer suas investigações: primeiro, observavam atentamente os fatos da natureza e, depois, realizavam experimentos para chegar a um novo conhecimento. Esse tipo de método foi, mais tarde, chamado de método científico. Os princípios renascentistas O que queremos aqui é destacar o incentivo à pesquisa e à experimentação que começavam a crescer. Esse incentivo era possível porque se fortalecia a crença de que o ser humano era capaz de “conhecer” os segredos do mundo através de seu raciocínio e transformar as coisas com suas ações. Essa visão do homem como um ser com muitas capacidades e que age sobre a natureza é um dos principais valores do homem do Renascimento. Nada devia ser proibido à mente humana! Defendendo essa ideia, os renascentistas propunham uma nova relação entre o homem, a natureza e Deus. A explicação das coisas do mundo não devia ser procurada somente na vontade de Deus, mas no funcionamento do próprio mundo. Leia abaixo o que dizia, no século XVI, o pensador italiano Giordano Bruno: Os deuses deram ao homem o intelecto e as mãos e fizeram-no semelhante a eles, dando-lhe poder sobre os outros animais; este poder consiste não só em ser capaz de trabalhar de acordo com a ordem normal da natureza, mas ainda em ultrapassar as leis desta; de tal modo que, dando forma ou podendo dar forma a outras naturezas, (cria) outros rumos, outros sistemas com a sua mente [...]. Não devemos pensar que os novos conhecimentos e a crença no grande potencial do ser humano eram contrários à Igreja e ao pensamento religioso, forte na sociedade europeia. Muito pelo contrário. Deus continuava existindo como o criador da Terra e dos homens, porém os pensadores renascentistas defendiam que os seres humanos tinham sido agraciados por Deus com a razão, que lhes permitia conhecer o funcionamento do mundo. O conhecimento produzido, afirmavam os novos pensadores, era resultado do intelecto que Deus deu aos homens. Entre os indivíduos que transformaram o conhecimento sobre o mundo, podemos citar os astrônomos Nicolau Copérnico e Galileu Galilei. No início do século XVI, Copérnico foi o responsável pela descoberta de que a Terra não era fixa, como se acreditava então, mas que girava em torno do Sol. Esta era uma afirmação corajosa para a época, pois a poderosa Igreja Católica defendia a visão de que a Terra era o centro do universo, criada assim por Deus, e que todos os outros planetas e astros, incluindo o Sol, giravam a seu redor. Com medo de sofrer alguma ameaça, Copérnico divulgou suas descobertas como uma das hipóteses para a compreensão do universo. Cerca de cem anos mais tarde, Galileu Galilei retomou as ideias de Copérnico reafirmando que o Sol estava no centro do sistema do qual a Terra era apenas um dos planetas. Suas ideias despertaram a reação da Igreja Católica. O cientista foi denunciado ao Tribunal da Santa Inquisição, que julgava pessoas que praticassem atos contrários aos aceitos pela Igreja, e condenado. Somente em 1992, o então papa João Paulo II reconheceu o erro da Igreja em relação a Galileu e aceitou sua teoria! / 2ENASCIMENTO CONSTRØI SUA VISÎO DA )DADE -ÏDIA / 2ENASCIMENTO Ï UM DOS PROCESSOS HISTØRICOS QUE MARCA O INÓCIO DA )DADE -ODERNA SÏC 86 86)))  -AS RENASCIMENTO DO QUÐ / QUE HAVIA NASCIDO ANTES E DEVIA RENASCER ! RESPOSTA A ESSAS PERGUNTAS ESTÉ LIGADA A UMA VONTADE DECLARADA DE MUITOS ARTISTAS E PENSADORES RENASCENTISTAS DE TRAZER DE VOLTA OS VALORES ARTÓSTICOS E INTELECTUAIS DA CULTURA GRECO ROMANA VISTA COMO SUPERIOR %M CONTRAPARTIDA OS MIL ANOS QUE COMPUNHAM A )DADE -ÏDIA SÏC 6 86 ERAM VISTOS COMO UM PERÓODO EM QUE O HOMEM VIVERA NUM MUNDO DE hTREVASv NUMA ÏPOCA DE POUCO DINAMISMO E MUITO ATRASO SEM DESENVOLVIMENTO CIENTÓlCO OU ECONÙMICO %SSA VISÎO CONSTRUÓDA PELOS RENASCENTISTAS SE PROLONGOU POR MUITO TEMPO E AINDA HOJE PODEMOS ENCONTRÉ LA n EM DETERMINADOS LIVROS DIDÉTICOS PROGRAMAS DE 46 OU lLMES 4ODAVIA COMO DISCUTIMOS NO CAPÓTULO  AS VISÜES SOBRE O PASSADO MUDAM E HOJE CADA VEZ MAIS OS HISTORIADORES COMBATEM ESSA IDEIA DE h)DADE DAS 4REVASv REVELANDO UM PERÓODO MEDIEVAL MUITO MAIS COMPLEXO MARCADO POR INOVA ÜES CIENTÓlCAS E PELA PRODU ÎO DE UMA ARTE BASTANTE ELABORADA