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24:: HISTÓRIA:: MÓDULO 1
Introdução
No capítulo anterior, vimos como viviam e se organizavam povos que habitavam diferentes continentes entre os séculos XIV e XVI. Da diversidade de culturas encontrada entre as sociedades nativas do continente que veio a ser conhecido como América até os grandes impérios do Oriente, com seus lucrativos circuitos comerciais e tradições milenares, o“ vasto mundo” do poeta se aproximou um pouco mais de nós. É muito importante que você tenha em mente essa aproximação, porque a história que enfocamos neste módulo tem como uma de suas principais características a intensificação das relações culturais, políticas, sociais e econômicas entre as sociedades dos vários continentes. Relações que fizeram do“ mundo, vasto mundo” um lugar mais conhecido e integrado.
Não é à toa que alguns autores chegam a afirmar que a globalização, fenômeno sobre o qual tanto ouvimos falar nos nossos dias, teve início no século XV, quando os contatos e as trocas entre os continentes se fortaleceram. Nesse processo, os europeus desempenharam um papel preponderante e é para eles que nos voltamos agora. Nosso objeto de estudo, neste capítulo, é a sociedade europeia ocidental entre os séculos XIV e XVI.
Estudar a história da Europa nesse período é tratar de uma série de processos que produziram importantes transformações. Entre elas, podemos citar o desenvolvimento da atividade comercial e da burguesia, a centralização política que propiciou o surgimento das monarquias da Época Moderna, o movimento renascentista e as reformas religiosas.
Finalmente, podemos registrar o surgimento da sociedade do Antigo Regime, que substituiu a organização feudal medieval, reunindo aspectos tradicionais e modernos. Foram os homens e as mulheres dessa sociedade que estiveram à frente das caravelas que aportaram na América, África e Ásia e dos primeiros núcleos de povoamento estabelecidos fora da Europa. Quem eram essas pessoas? Em que tipo de sociedade viviam e quais eram seus valores? O que os levou a querer ocupar e dominar territórios tão distantes? Essas são algumas das perguntas que pretendemos responder no decorrer do capítulo.
As mudanças na sociedade feudal europeia
Conhecendo a sociedade feudal
No início do século XI, grande parte dos habitantes da Europa ocidental era composta de camponeses que viviam em propriedades rurais, ao redor da liderança e da autoridade de um nobre, um aristocrata. Essas propriedades rurais, que chamamos de feudos, eram o universo conhecido desses camponeses. E, mesmo os nobres, donos das terras e detentores do poder econômico e político, não iam muito mais longe em seu conhecimento do mundo que os cercava.
Vivendo nas terras dos nobres feudais, os camponeses praticavam a agricultura e a criação de animais, lutando com esforço por sua sobrevivência e fazendo pequenas trocas nas feiras que se realizavam dentro dos feudos. Muitas vezes, as colheitas mal davam para alimentar suas famílias e pagar os impostos, o que provocava uma permanente subnutrição, deixando as pessoas frágeis diante das doenças e colaborando para os altos índices de mortalidade.
O comércio de longa distância nunca desapareceu na Europa, mas podemos dizer que durante a Idade Média( séculos V-XV) concentrava-se em produtos de luxo direcionados a uma minoria da população. Os centros urbanos também perderam muito em habitantes e importância, mas permaneceram existindo como locais para atividades artesanais, administrativas e religiosas.
Os laços entre camponeses e nobres se organizavam através da servidão, relação de trabalho que estabelecia obrigações entre ambos. Tornando-se servo de um nobre, o camponês conseguia o direito de cultivar uma porção de terra, que seria utilizada por seus filhos após sua morte, além da garantia de proteção. Em troca, o servo deveria cumprir certas obrigações, como trabalhar nas terras do senhor feudal, e pagar determinadas taxas, como uma parte de sua colheita. Havia o compromisso de que o servo não abandonaria a terra. Desta forma, o senhor feudal garantia um fluxo de riquezas para suas mãos, fortalecendo sua posição de domínio na sociedade.
Esses senhores eram responsáveis pela administração da justiça e pela proteção militar das pessoas que moravam em sua propriedade, arcando com o custo da manutenção de exércitos particulares. Muitos deles também podiam cobrar taxas extras dos moradores do feudo ou de viajantes que atravessassem determinada região.
Transformações econômicas e sociais a partir do século XI
O cenário europeu que acabamos de descrever brevemente começou a apresentar algumas alterações já no século XI. Uma das razões foi o fim das invasões de povos estrangeiros, o que provocou a diminuição das guerras e do número de mortos entre os europeus. Por outro lado, os camponeses adotaram novas tecnologias agrícolas que permitiram o aumento da produtividade e proporcionaram uma melhor alimentação, resultando também em menos mortes. Assim, a população europeia apresentou um crescimento a partir do ano 1000.
O aumento da produtividade dos servos também fez surgir um excedente, ou seja, uma parte da colheita que sobrava após o pagamento dos impostos e dos gastos com alimentação. Para aqueles camponeses que conseguiam obter esse excedente, uma boa alternativa era tentar vendê-lo no mercado, dentro do feudo ou em áreas próximas. Com isso, as trocas comerciais começaram a se intensificar e alguns camponeses aumentaram suas rendas.
Por outro lado, o comércio de longa distância se intensificou a partir dos contatos comerciais feitos em torno do Mar Mediterrâneo com mercadores da África e Ásia. Para isso, o movimento religioso das Cruzadas, ocorrido entre os séculos XI e XIII, foi fundamental. As expedições europeias reuniram milhares de homens que, em seu caminho para a Palestina, conheceram e levaram para a Europa uma infinidade de produtos de luxo vindos de diferentes e distantes lugares – e aí se incluem os temperos, perfumes, tecidos e joias das Índias, além de ouro e pimenta da África.
Observe no mapa as rotas das Cruzadas e veja como elas conectam a Europa com a África e Ásia.
Em fins do século XIII, vamos encontrar uma Europa bem mais agitada. Rotas comerciais cortavam todo o continente, levando diferentes produtos. Os comerciantes italianos, principalmente das cidades de Veneza e Gênova, eram os responsáveis pelos contatos com o Oriente e obtinham enormes lucros revendendo na Europa as mercadorias orientais. Ao mesmo tempo, na região norte, uma intensa atividade comercial distribuía alimentos e matérias-primas pela Europa. Outras áreas centrais, localizadas onde hoje é a França, se especializaram na produção e distribuição de alimentos e tecidos.