12 :: H ISTÓRIA :: M ÓDULO 1
Introdução
Mundo, mundo, vasto mundo é um verso de Carlos Drummond de Andrade
em um de seus belos poemas. Ele pode nos fazer pensar na imensidão deste
planeta, nos seus muitos grupos humanos, nas muitas paisagens e histórias.
A história que estudamos, na maioria das vezes, se concentra no continente
europeu e não contempla algumas regiões do nosso vasto mundo. A África, a Ásia
e o continente do qual fazemos parte – a América – vêm ocupando um lugar
pequeno nos nossos estudos de História até hoje.
Os estudos que iniciamos agora vão justamente dar destaque a sociedades
que viveram em áreas do mundo, em geral pouco conhecidas e que foram
fundamentais para nossa História – e este “nossa” compreende não apenas a
humanidade da qual fazemos parte, mas o Brasil em especial.
O período que vamos abordar são os séculos XIV e XV, uma fase de muitas
mudanças na história da humanidade. As relações entre grupos humanos que
pouco se conheciam tornaram-se mais próximas, ocorreram novas e intensas
migrações e um longo processo de influências recíprocas se iniciou.
Alguém pode estar pensando: mas o que isso tem a ver com as nossas
questões de hoje? O que será que a história da China ou da Índia tem a
ver com a história do Brasil? Ou, lembrando de um conteúdo de História
estudado no ensino fundamental: o que havia nas chamadas “Índias” de
tão precioso que levava navegantes e comerciantes da Europa a arriscarem-
se em viagens longas e perigosas naquela época? Ou mesmo: por que era
tão importante para que esses europeus se conectassem com o Oriente?
Quanto à história indígena do Brasil é difícil imaginar alguém que não veja
a sua conexão conosco. Mas como teria sido a relação dos habitantes do nosso
território com os seus vizinhos – os moradores de territórios que hoje fazem parte
de outros países da América --- antes da chegada dos europeus? Se o Brasil com as
fronteiras atuais não existia, não era toda a América do Sul, toda a América, um
grande território indígena?
Já vimos no capítulo 1 que a História se constrói com base em
perguntas, em questionamentos. Portanto, esse é o nosso caminho.
Esperamos que ao final do capítulo possamos responder a essas e a outras
questões. E também para dar chance a que novas perguntas surjam.
Povos indígenas da América
A América antes da conquista europeia (que se deu a partir de fins do século
XV) era um grande território indígena. Isto é, povos nativos habitavam de norte
a sul o continente, com suas florestas, planícies e montanhas. O Brasil era parte
disso tudo. Mas nem o Brasil como país existia, nem a América tinha este nome
nem era dividida em norte, centro e sul, como é hoje.
Havia uma enorme diversidade no modo de vida e na cultura dos povos
indígenas da América. Havia aqueles que viviam da pesca, da caça e da coleta
de frutos silvestres, tirando diretamente da natureza sua subsistência; havia os
que conheciam uma agricultura simples, e se serviam dela como complemento
alimentar; e havia ainda aqueles com agricultura desenvolvida, que produziam até
mesmo além de suas necessidades e faziam comércio com a produção excedente.
Do norte ao sul da América as sociedades indígenas viviam períodos
de conflitos e de paz, de prosperidade e de penúria. Desde os apaches, sioux
e comanches da América do Norte aos caraíbas das ilhas da América Central,
chegando aos patagões no extremo sul da América, grupos indígenas lutavam e
se aliavam a povos vizinhos. Assim, as guerras eram parte integrante
da vida das sociedades nativas, estabelecendo ao longo do tempo
uma dinâmica de aliança e inimizade com povos próximas que
também servia para reafirmarr as tradições das comunidades. As
suas religiões eram extremamente ligadas aos fenômenos naturais e aos espíritos
dos antepassados.
A diversidade não se encontrava apenas na produção da sobrevivência. Havia
grupos nômades, que iam de lugar em lugar, buscando fontes de alimentos e
clima favoráveis; havia os seminômades, que, periodicamente, mudavam seu local
de moradia, dentro de uma determinada área; e havia ainda os sedentários, que
vivam em local fixo – e, entre estes, alguns construíram cidades, grandes templos,
pirâmides, observatórios astronômicos, e muitas obras grandiosas.
Nos séculos XIV e XV na América, entre esses últimos grupos citados,
destacavam-se os astecas e os maias, cujo território ficava no que é hoje o México,
e os incas, na América do Sul, – na região andina (Peru, Equador, Chile). No caso
dos maias, que habitavam o sul do México, suas fronteiras iam até a Guatemala
atual. Veja em um mapa geográfico onde ficam esses países atualmente (Peru,
Equador e Chile para os incas; México e Guatemala para os maias).
Os maias constituíam uma sociedade desde aproximadamente o século IV,
com cidades-Estado construídas em torno de templos. Desenvolveram a astronomia
e a matemática, entre outros saberes, e deixaram muitos textos escritos. Na sua
longa história, enfrentaram conflitos internos e externos, o que finalmente os levou
a uma grave crise entre os séculos XIII e XV, desestruturando a sociedade. No
entanto, os maias não se extinguiram: sua língua e seus costumes permaneceram,
mesmo frente à conquista e à colonização, e até hoje resistem.
Já os astecas, que habitavam o centro do México nesse mesmo período,
viviam uma fase de expansão sobre outros grupos indígenas. A grande extensão
do Império obrigou-os a criar formas de participação política dos chefes dos grupos
dominados, além disso, passaram a ter um numeroso exército e um grande
número de funcionários. O poderio do Império asteca se refletia nas cerimônias
religiosas e políticas, realizadas nos templos e pirâmides grandiosos da sua capital,
Tenochtitlán, atual Cidade do México. A cidade foi construída sobre um sistema de
lagos e canais, que faziam dela uma obra admirável de arquitetura urbana.
Nessa mesma época, a cobrança de tributos e a retirada da autonomia das
comunidades devido ao crescimento e à centralização do Império asteca causavam
grandes descontentamentos. Os funcio