Missa Inculturada Afro Brasileira
Termo moderno de uma pratica antiga
O termo Inculturada não remete a falta de cultura, muito pelo contrário deriva do termo latino “inculturatio” criado em 1974 no documento de 32ª Congregação Geral da Companhia de Jesus. Trata-se de um neologismo, “canonizado” oficialmente no Sínodo Romano de 1977, para significar a missão da Igreja em relação às culturas da humanidade (“Mensagem do Povo de Deus, n.5”). Trata-se de equacionamento moderno de um antigo problema. A questão da relação entre a mensagem cristã e as culturas é tão antiga quanto a Igreja. Mas a problemática da “inculturação” é recente, pois é o resultado da nova conscientização do pluralismo cultural da humanidade. conforme Mario França Miranda.
Inculturação é a influência recíproca entre o cristianismo e as culturas dos países onde a fé cristã é praticada. Apesar de ser considerado um termo “moderno”, contemporâneo, sua prática é muito mais antiga. A pregação de jesuítas como José de Anchieta no Brasil foi um exemplo de inculturação, pois os jesuítas, para melhor ensinar a doutrina cristã aos nativos, se utilizaram de elementos da cultura indígena. Também está presente no sincretismo religioso fortemente difundido na Bahia e depois enraizado pelo território brasileiro.
Nas palavras de Pedro Arrupe, superior da Companhia de Jesus em 1978:
“A inculturação é a encarnação da vida e da mensagem cristã em uma área cultural concreta, de modo que não somente esta experiência se exprima com os elementos próprios da cultura em questão (o que ainda não seria senão uma adaptação), mas que esta mesma experiência se transforme em um princípio de inspiração, a um tempo norma e força de unificação, que transforma e recria esta cultura, encontrando-se assim na origem de uma "nova criação"
Em 1979, o Papa João Paulo II, para quem o termo o termo "inculturação" exprimiria muito bem uma das componentes do grande mistério da "Encarnação", afirmou que:
“A catequese tem de procurar conhecer essas
culturas e as suas componentes essenciais; ela deve apreender as suas expressões mais significativas; e deve também saber respeitar os seus valores e riquezas próprias. É deste modo que ela poderá propor a tais culturas o conhecimento do mistério escondido e ajudá-las a que façam surgir da sua própria tradição viva expressões originais de vida, de celebração e de pensamento cristãos”
Longe aqui de havermos realizado uma completa discussão sobre o tema, porém suficiente para o seu propósito.
Celebra a História do Povo Negro
A Missa Inculturada Afro Brasileira é fortalecida com a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos, primeiramente por volta do ano de 1627 em Olinda – PE. Apesar de a devoção a Nossa Senhora do Rosário datar do século VII, chega ao Brasil por volta do século XVI. O povo africano e afrodescendente foi direcionado a realizar este ato religioso pela própria Igreja com intuito de fazer uma ponte de ligação entre o catolicismo e as culturas religiosas de origem africana, e estes por sua vez preservar o pouco que ainda restava de sua ancestralidade.
A aproximação com os Santos negros e de ancestralidade africana fica evidente a partir dai, como no caso de São Benedito, Santa Efigênia, São Elesbão (O rei Negro da Etiópia) e Santo Antônio de Categerô (reconhecido Santo apenas no Brasil).
A Congada, Congado ou Congo deriva do reisado de Chico Rei, festa aos três Reis Magos realizado durante o mês de janeiro. A Congada acompanha o cortejo do Régio Casal até a Igreja para a sua coração pelo vigário. Nesse cortejo – ou procissão, são seguidos pela corte e pela guarda de proteção, fazem a homenagem a São Benedito, e a representação da luta de Carlos Magno contra as invasões Moura, e o Encontro da Imagem de Nossa Senhora do Rosário submersa nas águas. Representa também a coroação do Rei do Congo e da Rainha Ginga de Angola.
A Missa inclui instrumentos de origem africana – como tambores e adereços, cânticos e danças, além de indumentárias próprias.
Revista A Cara da Cultura outubro 2017 05