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Essa operação de costura se deu em uma relação ‘Eu - Outro’, na qual observa-se um processo de centramento. O “eu” é aquele que assume o discurso e, a partir desse ato, passa a exercer o poder de valorar o “outro”, que é marginalizado no processo. A exemplo disso, na Carta de Caminha observa-se um início desse centramento: ao se referir aos povos nativos da América como “gente bestial”, o português se coloca como centro do discurso e, ao animalizar o outro, contribui para sua marginalização, não dando ao indígena a possibilidade de se apropriar do discurso e produzir sua própria narrativa. Ou seja, ao assumir o discurso, o patriarcado passou a propagar seus valores e reprimir aqueles que não lhes agradavam.
A partir disso, os valores foram sendo selecionados e implantados no Brasil institucional, enquanto demais valores ficaram somente no Brasil imaginário. Surgiu-se então a forças de recentramento: “intelectuais” criticando a seleção de valores, como Machado de Assis - a exemplo tem-se Macunaíma, história a qual se cria um protagonista nativo sem nenhum caráter, sem moral e sem identidade - e Oswald de Andrade - que propõe o momento Antropofágico, seria, a grosso modo, uma digestão de todos valores, incluindo os marginalizados e oprimidos, criticando-os e sem a seleção de tais valores; neste caso, o “eu” deixaria de ser centralizado dando espaço à crítica.