Terapia Ocupacional e trabalho: alienação ou libertação?
Somos seres ocupacionais, mas nos tornaram serviçais
Não temos tempo pra dormir
Não temos tempo pra comer
Não temos tempo nem pra estudar
Quem dirá pra o lazer
O tempo é dinheiro e dinheiro é tempo
Mas nenhum dos dois nós temos
Fazem-nos dar graças a deus por ainda sermos úteis para sermos explorados
Fazendo-nos comparar com quem não serve nem pra isso e está desempregado
Estes têm cor, classe e gênero e são cotidianamente encarcerados, aterrados e enxotados
A nossa força de trabalho é a mercadoria mais barata nas prateleiras do mercado
Nos “educam”para entrar nessa linha de produção
Tentam nos convencer que esse tipo de trabalho é dignificação
Ou seria na verdade exploração?
E se não se encaixar no “perfil” vai pra o fim da fila infinda
E entra então na linha o próximo desesperado
Disposto a vender a única coisa que possui, a sua força de trabalho
Para estes então, eis um conselho do patrão
Não pode ficar doente, nem engravidar, nem atrasar, nem viver
Só trabalhar
Se der defeito, cai fora, ou vai pra reabilitação
Nesse sistema até a saúde é usada como instrumento de alienação
Não querem desperdiçar a força de trabalho de mais um operário
Vai então para o conserto pra voltar a ser explorado
O cotidiano foi colonizado
A previdência e o tempo capitalizados
Querem reabillitar corpos pra voltar pra linha de exploração ou para lutar por libertação?
Querem uma Terapia Ocupacional ou da alienação?
Das perguntas feitas sabemos bem a resposta do capital
Mas e nós enquanto profissão? Queremos alienação ou libertação?
A nossa prática serve aos interesses da classe dominante ou da classe trabalhadora?
Entre manter a estrutura hegemônica e mudar as coisas, o que nos interessa mais?
Entre as possibilidades e barreiras impostas pelo capitalismo
Afirmamos freirianamente que para o impossível de hoje se tornar real amanhã é preciso fazer o possível de hoje acontecer
Por isso, hoje, enquanto estudantes latino americanos de terapia ocupacional
Ousamos dizer que a rebeldia epistêmica nos permite desobediência
Sendo assim possível descolonizar o cotidiano
E cotidianizar a revolução
Para isto, o primeiro passo é nós unirmos com a nossa classe
A classe trabalhadora.
Luiza Melo, Estudante de Terapia Ocupacional UFPE