Minha primeira publicação EDIÇÃO FEVEREIRO | Page 29

29 jornal O Claustro
Todos temos aquela primeira onda em que nos levantamos e a surfamos , até podemos não nos recordar bem dela , mas foi a primeira de muitas . Mas presenciar a primeira onda de alguém enche-me o coração . A felicidade presente na cara daquela pessoa marca-me , é uma das melhores sensações que já senti em toda a minha vida . Sinceramente , não paro de pensar em como não dei valor a todos estes detalhes que me faziam feliz , enquanto tinha a liberdade para os poder viver . Acho que realmente só damos importância às surfadas menos boas nestes momentos em que nem sequer podemos vivenciar uma .
Leonor Lima

A minha terra

É uma terra de malucos . Quem lá vive assim a reconhece , quem não vive também . Entre os campos e as casas , os matos e os barracões , encontra-se um hospital psiquiátrico que quase se camufla na paisagem . No entanto , é impossível não dar por ele . De entre todos os homens que alberga , alguns sofrem fechados nos seus quartos , por não poderem ( ou não quererem ) sair à rua e sentir o sol na pele ou o cheiro da terra . Algures na sua vida , cederam aos próprios delírios , sucumbiram aos impulsos dando ouvidos à voz da doença e causaram dano a outros que , provavelmente sendo seus familiares , já os perdoaram pelas suas ofensas . Segue na minha terra o rumor de que um deles atacou a própria mãe , mas nunca ninguém o contactou para saber se era verdade . Tendo oportunidade , também não o fariam . A maior parte destes homens compensa o que lhes falta em astúcia com simpatia . Estes têm autorização para , durante determinado período de tempo durante o dia , saírem do hospital e passearem pelas redondezas . É aí que os vemos , nos passeios junto à estrada ou no café mais próximo , a pedir trocos ou a usar os que já lhes foram previamente “ emprestados ” pelos auxiliares do hospital .