Minha primeira publicação 2019 | Page 32

Segmentos Concurso Nacional de Leitura 2019 Sempre me senti muito ligada às artes e à literatura, um livro de José Saramago (autor cujas obras já me são embora estas nunca fossem mais do que distrações conhecidas), As intermitências da morte, pelo qual acabei triviais. Eu própria nunca as tive em conta seriamente, por “morrer de amores”. O livro abordava temas que já pois era, e sou, reservada, a menina que “calava e comia” nos são familiares e embelezava ainda mais o amor e a e que nunca participava ativamente nas aulas, facto condição humana, o que me apaixonou. Quando fui estranho, uma vez que alguém que vive tanto de uma testada, dei tempo às palavras de fluírem da mão para área como da outra é, por norma, um indivíduo fora, pois afinal de contas, era a única aluna do ensino naturalmente expressivo, informado, que sempre tem secundário a participar, por isso, não tinha concorrência alguma coisa para dizer ao mundo. nem motivos para me preocupar. Não me considero possuidora do dom da palavra, apesar O tempo parece que, às vezes, é masoquista, e gosta de de ter opiniões fortes sobre mil e um assuntos, que nos fazer sofrer por antecipação, o que aconteceu normalmente guardo para mim. Nunca participei nos comigo. A data da Fase Intermunicipal (5 de abril) parecia torneios de retórica e sempre tive um pacotinho de relutante em chegar. No entanto, tinha trabalho para me lenços perto de mim nos debates das aulas de filosofia, a entreter: estudar o livro A cidade dos deuses selvagens, fim de limpar as lágrimas e esconder os engasgos. Não de Isabel Allende, o que também me levou uma completa era boa oradora (ou pelo menos, era o que eu pensava eternidade a analisar, devido aos elementos de avaliação até agora). que, na escola, se sobrepunham. Adianto já que, nesta Nas apresentações orais, era um mundo completamente diferente, principalmente na disciplina de português! Punha sempre a minha criatividade à prova. Gostava de fazer algo diferente em todas as minhas pequenas atuações, de dar uma opinião sincera e verdadeira sobre os livros que apresentava e de colocar nelas um pouco de mim. Sentia que brilhava, e conseguia sempre obter uma boa classificação. Inscrevi-me por livre e espontânea vontade no Concurso Nacional de Leitura com uma atitude ‘‘desportiva``, apesar de a professora bibliotecária me ter incentivado e expressado a sua vontade de me integrar neste concurso. Confesso que não tinha grandes expetativas, pois este tipo de competições costuma ser ganho por alunos das fase, iria ter uma prova escrita sobre a obra, que consistia numa série de questões de escolha múltipla e um elemento de resposta extensa, um texto. Nessa prova, iriam ser apurados os cinco melhores alunos, que, posteriormente, enfrentariam o público, constituído por todos os participantes e respetivos acompanhantes, numa prova oral que envolvia a leitura expressiva de um excerto da obra selecionado pelo aluno, e a sua argumentação sobre o que o levou a fazer essa mesma escolha. À medida que ia estudando minuciosamente cada detalhe da história, que, avanço já, não gostei, obriguei- me a prestar atenção ao texto em si, a fim de encontrar algo suficientemente bom para apresentar. grandes cidades e de escolas prestigiadas, mas, como Espero gosto de estar bem preparada, comecei a ler intermunicipal dê uma vista de olhos neste (longo!) precocemente as obras exigidas e a investigar mais sobre texto, pois considero que foi uma péssima escolha para o o concurso. Para minha surpresa, todos os alunos são ensino secundário, devido à linguagem excessivamente bem-vindos neste tipo de evento e, se formos bons e fiéis simples, ao texto condensado e à imaturidade das amantes da leitura, conseguimos chegar longe, apesar personagens. Efetivamente, não gostei da obra! das fases do concurso não serem fáceis. Na fase escolar, era exigido o conhecimento e leitura de 32 que nenhum responsável por esta fase Lembro-me do momento em que, finalmente, fiz a minha escolha do excerto. Enquanto o lia e analisava, fui-me