Segmentos
Assim que colocaram a prova à minha frente, concentrei-
me em apenas responder a todos os elementos de forma
correta e rápida, pois, em caso de empate, o tempo em
que concluíamos a prova era fulcral.
Na mesa onde me encontrava a realizar a prova estava
também outro aluno do ensino secundário, e quando
olhei, vi que já redigia o texto, enquanto que eu ainda
respondia às questões de escolha múltipla. Sei que não
devia deixar que isto acontecesse, mas o medo e o receio
apoderaram-se de mim. Engoli em seco, apressei-me a
concluir as questões e avancei para o texto. Li o
enunciado, e não poderia acreditar no que me estava a
acontecer: eu, que sempre expressei o meu pequeno ódio
pelo livro, teria de fazer agora, contrariada e em cinco ou
dez minutos, um texto argumentativo em que expunha as
razões pelas quais aconselharia a leitura da obra!
Escrevi uma breve introdução enquanto procurava
mentalmente as razões que pudessem levar o mais Gostei imenso do evento que ocupou a tarde, apesar de
superficial e mundano dos leitores a pegar neste livro. me sentir um pouco sozinha, pois estava distanciada da
Acabei por deixar a minha imaginação e expressividade restante comitiva paivense, embora estivesse ao lado de
fluírem e fui escrevendo, descarregando o vocabulário outros alunos. Os finalistas eram anunciados e faziam a
mais rico que tinha para oferecer. Assim que terminei, prova oral por ordem crescente de ciclos. Entretanto,
apenas contei o número de palavras, que, por sorte, chegou a vez do ensino secundário, o que me deixou
estava dentro do limite, e ergui o braço, mostrando que já automaticamente nervosa. Contudo, pensei em apenas
tinha terminado. A prova foi-me retirada, e passei o resto uma coisa: se fosse selecionada, iria entregar o melhor de
do tempo a devanear sobre as minhas respostas, tanto mim, e ser genuína.
que só ao almoço é que reparei que tinha errado uma ou Um finalista foi anunciado, e depois outro, e outro e mais
duas questões e que a probabilidade de outros cinco outro, num total de três rapazes e uma rapariga. Faltava
participantes terem acertado a todas as perguntas era anunciar apenas um finalista, o último, tanto a nível do
enorme, o que me deixou desanimada, pois agora tudo ensino secundário como global. Era o momento do tudo
dependia apenas do meu texto, texto esse que tinha ou nada, que acabou por ser um dos mais felizes da minha
escrito contrariada e à minha maneira (ou seja, mais vida. Fui a última finalista a ser chamada, e seria a última a
literário), algo para o qual as professoras de Português já fazer a prova oral.
me tinham alertado, pois os meus textos argumentativos
são bastante subjetivos e ornamentados do que, por
norma, deviam ser, o que, no exame nacional, me pode
prejudicar. Considero impensável meter todos os alunos
numa só caixa, mas isso é outra conversa!
Não me lembro de absolutamente nada do que os outros
finalistas disseram ou leram, de tão nervosa que estava.
No entanto, ser a derradeira permitiu-me observar as
características gerais de cada apresentação. Todos eles
eram bons, mas objetivos, artificiais, algo que não
Parecia que os deuses não estavam a meu favor e a minha considero bom. Contudo, senti-me um pouco exposta, por
fé também não era muita. Limitei-me a encolher os ter uma apresentação absolutamente diferente, na qual
ombros, e aproveitei o resto do momento e da companhia revelava um pouco de mim para o mundo e apelava ao
que tinha. público.
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