Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 12

Considerações Finais Observou-se que as ações da tropa de paz na MINUSTAH inovaram a logística humanitária de atendimento às situações de crise, buscando rápida e eficiente resposta aos afetados. Nesse sentido, a doutrina das agências da ONU, bem como das ONG humanitárias, como UNISDR6, USDP, MSF ou IFRC, prevê que os trabalhos realizados pelas tropas de paz da ONU e pelas agências de assistência humanitária sejam totalmente imparciais, buscando a manutenção da credibilidade destas entidades civis frente à população. Todavia, as ações das tropas da MINUSTAH avançaram involuntariamente contra qualquer desejo de opor-se às normas vigentes. Assim, contrariaram as previsões das agências da ONU e ONG que trabalhavam em paralelo, somando-se aos objetivos destas, ganhando a credibilidade dos haitianos e relativizando os conceitos de independência e imparcialidade. A mudança ditada pelo modus operandi brasileiro retificou a visão de emprego da tropa como uma força de paz com uso exclusivo dos fuzis, no que o General Heleno considerou “uso indiscriminado da violência”. A assistência médica aos civis em ambiente urbano, com estrutura logística militar orgânica do próprio CONTBRAS HAITI foi imposta pela impossibilidade de atuação das próprias instituições defensoras de uma assistência humanitária isenta, neutra e autônoma. Logo, as ações humanitárias efetuadas pelos militares brasileiros na MINUSTAH, inicialmente secundárias, demonstraram-se altamente positivas e imperiosas, diante do confronto bélico em ambiente urbano, além de confirmar que “instituições distintas” não desenvolvem obrigatoriamente “ações distantes”, principalmente quando aquelas agências civis tiveram suas instalações e especialistas fortemente afetados pelo terremoto sem que, em qualquer momento, pudessem comprometer a imparcialidade de seu status quo. Por fim, de modo lógico, conclui-se que as tropas cumprindo missões de paz devem estar prontas e adestradas para realizar assistência humanitária em situações de crise.MR NOTAS 1. Álvaro de Souza Pinheiro é General de Brigada e ex-comandante das Forças Especiais do EB. Atualmente está na reserva e atua como analista militar e especialista em guerra irregular. 2. Tahiane Stochero é jornalista especializada em tropas de operações especiais, segurança pública, defesa e conflitos internacionais. Ela esteve no Haiti em 2007 e após o terremoto de 2010. 3. Bairro não pacificado da cidade de Port-au-Prince, capital do Haiti. 4. Código de Conduta Relativo ao Auxílio em Casos de Desastre para o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e das ONG na Assistência Humanitária em Situações de Desastre. Elaborado em conjunto pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) e pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Parte III, Anexo 5, p. 312-322, da Carta Humanitária e Normas Mínimas de Resposta Humanitária em Situação de Desastre, ed. 2011, 330p, Projeto Esfera. 5. Extraído da Carta do Chefe do Serviço de Suporte e Gerência Financeira do Departamento de Operações de Manutenção de Paz (FMSS/ OMS/DPKO), de 14 nov. 2006, p. A-3 e p. C7-8. 6. Estratégia Internacional de Redução de Riscos de Desastres (United Nations Office for International Strategy for Disaster Reduction, UNISDR) e Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (United Nations Development Programme, UNDP). REFERÊNCIAS BERESFORD, A.; PETTIT, S. “Emergency Logistics and Risk Mitigation in Thailand Following the Asian Tsunami”. International Journal of Risk Assessment and Management. v.13, n1, p.7, 2009. BOIN, A.; KELLE, P.; WHYBARK, D.C. “Resilient Supply Chains for Extreme Situations: Outlining a New Field Of Study”. Interna [ۘ[