MegaZine 6 - Fevereiro 2017 | Page 36

meu desempenho, não me tornou inútil.
O Visconde não se deixou demover, enfrentando a ira da companheira.
– Não há inutilidade em ter um problema de saúde e tê-lo em conta nas nossas acções – declarou, pegando no relógio de bolso e relanceando um olhar aos ponteiros. – E a verdade é que a partir de agora não há muito que possa fazer para andar com o que planeamos. Já pensou no que lhe sugeri?
A pergunta de preocupação, quando esperava pelo prolongamento de uma disputa que já tinham repetido vezes sem conta, desarmou-a.
– Não – admitiu. – Não tem havido muito tempo.
Túlio soltou um suspiro, prontamente ignorado pelos outros dois.
– Pois então pense – retrucou o Visconde, chamando de volta o serviçal, enquanto se levantava da mesa. – Vai passar a ter tempo. Agora se me desculpam, tenho um compromisso.
Nenhum respondeu à despedida, Helena disfarçando a agitação com um gole do chá frio, Túlio esperando que estivessem a sós para vozear a sua concordância.
– Ele tem razão, Helena. Já houve pequenos sustos. Se essa mulher te pode ajudar …
– Substituir um coração não é o mesmo que substituir um braço ou uma perna – cortou Helena, pousando repentinamente a chávena. Então é isso, tem medo, compreendeu Túlio. O cenho eternamente franzido suavizou-se.
– Não sou tua irmã, Helena, mas juntamo-nos numa causa e habituei-me a ti. Esta mulher é reputada, tem boa fama.
– Só o Visconde é que falou dela.
– Só precisas da palavra do Visconde para saber das suas credenciais. Um negócio destes não é para o conhecimento de qualquer um, nos dias que correm. Ter-te dado esta informação só demonstra o seu amor por ti.
Amor de irmã, considerou Helena. O Visconde poderia não pertencer mais ao seu coven, mas não esquecera a ligação que unia os seus membros. Talvez não devesse permitir que o seu receio atropelasse o reconhecimento desse amor. O Visconde não o fizera.
Recostou-se na cadeira, terminando a bebida enquanto observava a sucessão de cores que precedia a escuridão. Mal ouviu quando Túlio se ergueu, deixando-a sozinha nas suas deliberações. Não fez qualquer tenção de se mover quando a noite a procurou tragar, impedida apenas pela luz artificial que iluminava tenuemente o varandim, saída na porta envidraçada por trás de si. A decisão estava tomada, mas o peso da incerteza não a abandonara.
A campainha a chamar para a ceia sobressaltou-a. Deixara-se ficar ali aquele tempo todo?
– Não admira que esteja enregelada – murmurou entre dentes. Os serviçais deviam