steampunk outra vez. E por aí a diante até ao infinito...
Podemos tentar colocar o estilo quanto quisermos dentro de caixinhas bem arrumadas e etiquetadas mas, de alguma forma, como um gato vivaz, o género acaba por escapar violentamente das caixas e rasgar qualquer etiqueta que se lhe tente colocar. 3
" Quer isto, no entanto, dizer que " steampunk " não pode ser considerado um género?" perguntará outro leitor, que não o primeiro, porque com esse, como já disse, não falo.
" Claro que pode ", diria eu, batendo violentamente com a mão na mesa e entornando o meu copo de brandi nas calças, de forma embaraçosa, mas mantendo a minha postura cavalheiresca.
A questão é que este é um género que não pode, pelo menos para já, ser definido de uma forma tão concreta como algumas pessoas gostariam. A níveis substancialmente diferentes é como pedir a alguém que defina " sensibilidade " ou " bom senso ". Todos sabemos que essas coisas existem. Até há um livro com essas palavras no titulo, por amor de tudo o que é mais sagrado, mas desafio um leitor a dar uma definição objectiva e universal desses dois conceitos. No entanto quando vemos uma coisa ou outra, por norma, sabemos o que estamos a ver.
Com steampunk passa-se o mesmo. Ao se tomar conhecimento e contacto com o conceito sabemos automaticamente o que é ou não.
Muitos puristas poderão dizer que isto é um argumento de alguém que não sabe do que está a falar. Eu estaria inclinado a concordar. Apenas discordaria que eles sabem mais sobre o assunto.
Na minha opinião apenas uma pessoa que ache que tem " A Verdade "( maiúsculada, claro) guardada nas suas ceroulas pode dar uma definição final a qualquer género, principalmente a um tão novo e ainda em tamanha expansão como este.
Por mim, tudo bem, podem guardar as verdades deles onde muito bem entenderem, mas, como tudo o resto que se guarda dentro de ceroulas, sugiro que não andem por aí a dizer que o seu steampunk é maior que o dos outros. Inveja de steampunk é uma coisa muito feia.
A minha sugestão aos leitores, no entanto, é que encontrem a sua própria definição de steampunk, se agarrem a ela e não a larguem enquanto lhes fizer sentido e lhes der prazer. Como em muitos outros casos, acho que se pode dizer que aqui a viagem é muito mais interessante que o destino. Aproveitem enquanto dura.
Para ouvir depois da leitura: https:// open. spotify. com / track / 0lG7tohgiOp1wA32OOusTZ
Rui Leite nasceu em 1984 em Vila Nova de Gaia, onde cresceu e estudou Comunicação. Neste momento tem dois contos publicados no Brasil na Antologia Terrir, da editora Estrondo e um conto publicado na Antologia " Space Opera III ", da editora Draco, escrito em colaboração com Julia Durand. Por cá, foram publicados no Almanaque Steam-Punk 2013 e 2015, ambas com ilustrações de Rui Alex, e também na antologia de ficção científica " Comandante Serralves ". As Antologias Fénix nr 1 e Ficções Phantasticas nr 3 contam também com publicações do autor.
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