Arranha-céus
J. G Ballard
“Num imponente edifício de
quarenta andares, o último grito da
arquitetura contemporânea, vive
Robert Laing, um bem-sucedido
professor de medicina, mais duas
mil pessoas. Para desfrutarem
desta vida luxuosa, não precisam
sequer de sair à rua: ginásio,
piscina, supermercado, tudo se
encontra à distância de um
elevador. Mas alguma coisa
estranha borbulha por baixo desta
superfície de rotina.
Primeiro
atacam-se
os
automóveis na garagem, depois os
moradores. Um incidente conduz a
outro e, acossados, os vizinhos
agrupam-se por pisos. Quando
aparecem as primeiras vítimas, a
festa mal começou. Entre a
alucinação e a anarquia, a visão
nunca ultrapassada de J. G. Ballard
oferece-nos um retrato demencial
de como a vida moderna nos pode
empurrar, não para um estádio
mais avançado na evolução, mas
para as mais primitivas formas de
sociedade.”
Atrevo-me a dizer que este
livro tem o seu quê de distópico,
na perspetiva de que pouco
vemos do mundo de hoje, ou de
algum mundo sequer. Apenas
vemos o arranha-céus, as suas
regras e as suas manias. Só existe
o arranha-céus, tudo o que passa
para além dele não existe, é uma
ilusão e não interessa.
Fabulosamente
escrito,
cativou-me desde o início.
Imaginem uma sociedade de
classes como atualmente existe.
Agora imaginem que vivem várias
classes no mesmo edifício e que
têm uma vida normal, são
vizinhos, ouvem-se uns aos outros
durante a noite (o isolamento
falhou bastante na construção),
são tal e qual nós e os nossos
vizinhos. Agora imaginem que a
noção de civismo deixou de
existir, não há policiamento e
cada um pode fazer o que lhe
apetecer. Ballard leva-nos ao
limite da depravação humana.
Fica o pensamento: Como
seríamos realmente se não
existíssem algumas das normas
que a sociedade nos impõe?
A Minha luta:1
A morte do pai
Karl Ove Knausgård
“Karl Ove Knausgård escreve sobre
a vida com dolorosa honestidade.
Escreve sobre a infância e os anos de
adolescência, a paixão pelo rock, a
relação com a sua afectuosa e algo
distante mãe, e o seu pai, sempre
imprevisível, cuja morte o desorientou.
O álcool e a perda pairam como
sombras sobre duas gerações da
família.
Quando ele próprio se torna pai,
Knausgård tem de encontrar um
equilíbrio entre o amor pela família e
a determinação em escrever.
Knausgård criou uma história
universal de lutas, grandes e pequenas,
que todos enfrentamos na vida.”
Confesso que quando este livro foi
editado não me chamou a atenção
mínimamente, não gostei da capa,
não gostei do tema, pouco me
importava a vida deste senhor. Tudo
mudou quando li uma entrevista
dele, que saiu no Expresso. Rendi-me
completamente. Adorei a visão,
adorei o autor. Peguei então pela
primeira vez no livro com olhos de
ver e li as primeiras páginas.
Profundo,
verdadeiro
e
emocionante, Karl faz-nos viajar
com
ele
pelas
aprendizagens
da
vida, descrevendo-a
de forma tão honesta
e por vezes tão fria
que
é
fácil
esquecermo-nos
de
que estamos a ler um
r o m a n c e
autobiográfico.
Este é o primeiro de
seis volumes do autor
norueguês, três deles
já publicados em
Portugal pela editora
Relógio D’Água. São
eles “Um homem
apaixonado” e “A ilha
da infância”.
O Torcicologologista, A Seleção / A Elite / A Escolha
Kiera Cass
Excelência
Gonçalo M. Tavares
“- Gosto muito de bater na cabeça das
pessoas com uma certa força.
- Gosta?
- Sim, agrada-me. Dá-me prazer. Uma
pessoa vai a passar e eu chamo-a: ó,
desculpe, Vossa Excelência?!
- E ela - a Excelência - vai?
- Sim. Quem não gosta de ser
chamado à distância por Vossa
Excelência? Apanho sempre, primeiro, as
pessoas pela vaidade… é a melhor
forma.
- E quando a pessoa-Excelência chega
ao pé de Vossa Excelência, o que
acontece?
- Ela aproxima-se e pergunta-me: o
que pretende? E eu, com toda a
educação e não querendo esconder
nada, digo: gostava de bater com certa
força na cabeça de Vossa Excelência. É
isto que eu digo, apenas. Nem mais uma
palavra.”
São pequenos diálogos de cada vez,
que vão surgindo e que parecem
divertir, têm piada, são até
“levezinhos”. Quando reparamos,
entrámos numa espiral de noções
básicas do que é errado ou certo. O
que é a coragem? Será que é possível
ser corajoso e medricas ao mesmo
tempo? E quando isso acontece?
Pequenos diálogos que nos fazem
refletir em questões simples da vida,
questões que nem sempre partilhamos
com os nossos amigos. Algumas ficam
mesmo a boiar no nosso pensamento
como se fossem tímidas. Tavares faz-nos
trazer tudo cá para fora.
“Para trinta e
cinco raparigas, A
Seleção
é
a
oportunidade de uma
vida.
É
a
possibilidade
de
escaparem de um
destino que lhes está
traçado desde o
nascimento, de se
perderem num mundo
de vestidos cintilantes e
joias
de
valor
inestimável e de viverem
num
palácio
e
competirem
pelo
coração
do
belo
Príncipe Maxon.
No entanto, para
America Singer, ser
selecionada
é
um
pesadelo. Terá de