Lê e ler Agosto, 2017 | Page 14

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O vento lhes batia na face levemente ruborizada da corrida. No ponto de partida, ouvia-se apenas o som da respiração ofegante e das risadas que tanto lhes teimava em sair, mesmo com o corpo cansado. Elas se apoiaram na mureta cinza e meio ancoradas uma na outra, sentaram-se. Eram jovens, ainda. Tão jovens quanto lhes eram permito ser. Podiam rir, correr, chorar sem culpa.

As pessoas costumavam dizer que eram irmãs, por serem, de alguma estranha forma, semelhantes fisicamente. Mal sabiam, aquelas mesmas pessoas, que elas eram irmãs sim, mas de alma.

Daquela maneira mais peculiar que pode acontecer. De quando sua união era tão forte que as guiava, fazendo-as rumar sem destino, seus passos sendo guiados por instintos. Daquela maneira em que sentimos quando o outro precisa de um ombro amigo. De quando o silêncio podia se revelar grandes momentos.

Sabe aquela lei que diz que os opostos se atraem? Ela é verdadeira em tantos aspectos. Juntas as meninas formavam a verdadeira dupla “sal com pimenta”. Uma, agitada. Outra, calmaria.

Os anos passaram e elas se afastaram. Cresceram, amadureceram e seguiram rumos completamente diferentes. Mas aquele dia… Ah, aquele dia ficaria para sempre marcado na memória das duas. Naquele momento em que se reencontraram e perceberam que eram tão amigas que não importava o quanto o mundo as tentava afastar, havia sempre uma força magnética que as aproximava.

* Leatrice é blogueira/escritora no Lê e ler