LetArte 1 | Page 22

A arte na obra de Liane Moriarty

EDSON ASSUNÇÃO

Depois do sucesso de O segredo do meu marido, a autora australiana Liane Moriarty apresenta em Pequenas Grandes Mentiras um thriller brilhante, com narrativa intensa sobre discussões pertinentes, como a violência.

O epicentro da trama é a vida de três mulheres: Madeline, Celeste e Jane, vivendo conflitos por conta de relacionamentos, da criação dos filhos e das fofocas e comentários da pequena cidade de Monterrey, na Califórnia, cenário para história. O que se sabe logo no começo da obra é que houve um assassinato e todas as pessoas, até então “de bem”, do local são possíveis suspeitas. Tudo é apresentado ao leitor de forma não linear, com os investigadores colhendo depoimentos na tentativa de entender o que aconteceu ao passo que somos introduzidos às vidas dos personagens momentos antes do incidente. Isso tudo parece ter sido pensado meticulosamente pela autora para que o leitor possa imaginar, ou ao menos tentar juntas pistas para descobrir o culpado. Contudo, todos os pequenos tópicos eram apenas a superfície do enredo, que mostrou um debate muito mais profundo: da violência doméstica e do quanto isso afeta uma família. Se antes se pensava a personagem Medeline como o foco principal na história, o final nos mostra que não se tratava apenas de uma mulher rica rodeada por suas amigas, mas sim de mulheres afetadas de maneiras diferentes pela violência de um homem, mas que conseguiram sobreviver unidas a isso. O livro foi de tamanho sucesso que se tornou uma série com sete episódios em sua primeira temporada, produzida pelo canal de TV norte-americano HBO. Está previsto ainda para o ano de 2019 uma segunda temporada da trama.

Como ponto de partida, seguindo o raciocínio de Goodman em seu texto “Quando é arte?” (1984), talvez o maior problema em determinar com certeza o que é ou não arte esteja na forma de se desenvolver a questão. Para ele, ao contrário de tentar responder a clichê pergunta “o que é arte?”, seria mais efetivo se pensar em que momento uma obra se torna arte e quando ela se torna. Para Goodman (1984) um objeto pode ser considerado obra de arte ou não sob certa circunstância, ou em determinada época. Em seu texto, usando o exemplo de uma pedra, o filósofo explica que se a pedra se encontra na rua ela continuará sendo uma mera pedra, mas se uma vez estiver em um museu ela passa a ser simbólica, se torna arte.