Jornal Vanguarda n.99 - Jan/2020/set/2021 n.99 - Jan/2020/set/2021 | Page 6

Conhecendo Pessoas

‘‘ A vida é uma grande universidade , mas pouco ensina a quem não sabe ter a humildade de ser aluno .’’
Sempre conto uma história para os meus alunos como motivação : o meu pai , baiano , trabalhava na roça até que veio para São Paulo com aquele sonho de trabalhar na indústria metalúrgica , onde ele foi prensista , que não era mão de obra especializada . Naquela época , a menina dos olhos da indústria era ser torneiro , ferramenteiro , ajustador . Então , ele pensou : “ vou querer que meu filho seja algo assim ”.
Eu tinha uns 12 anos quando ele me disse : “ Filho , você vai estudar no SENAI , que vai te dar condição para sustentar uma família ”. E foi no SENAI Vila Alpina , que consegui entrar pela comunidade e onde fui entender o que era a indústria metalúrgica , com torno , fresa e retífica . Na sequência , aos 16 anos , comecei a trabalhar . Lembro-me que meu primeiro salário já era uns 200 reais a menos que o do meu pai , o que já era um grande sinal ! Meu pai ficou todo orgulhoso e já começou a fazer as contas como eu ia ajudar em casa ( risos ). Assim , continuei trabalhando e também estudei na ETEC , até que um dia , por sugestão do meu primo , fiz um teste para trabalhar como instrutor no SENAI . Tudo era muito concorrido , na época , existia até curso preparatório para a seleção e ajuda de custo .
Toda essa experiência abriu muito a minha mente , como a parte de Psicologia , a importância de preparar materiais para as aulas , enfim . Quando passei , tive de indicar uma escola e indiquei a nossa , a Roberto Simonsen , onde estou desde 96 . Aqui , iniciei pela oficina de tornearia . Na época , além de prestar serviços ao SENAI , ainda trabalhava na indústria , na Máquinas Piratininga . E assim fiquei um bom tempo , até que me efetivei de vez e permaneci aqui . Por isso , por ter começado minha história aqui , desde adolescente , me identifico tanto com os alunos . Apesar de ser professor , a gente é eterno aluno . Então , sempre aprendo muito , todos os dias . E não dá para parar . Uma coisa que me chama muito a atenção é ver a evolução dos nossos alunos , aquela coisa de se lembrar do professor , lembrar como foi e a alegria de saber que você faz parte da história do aluno . Sempre vejo nas redes sociais o carinho que eles têm ao falar que fizeram SENAI , que vestem a camisa ... Vários foram alunos e hoje viraram colegas de trabalho , isso é muito gratificante ... Eu tenho um lema : eu trato os alunos como eu gostaria que os professores tratassem meus filhos . Posso dizer que é uma profissão que eu não planejei , mas me achei nela .
Assim , quando temos um problema , não devemos perguntar o “ porquê ?”, mas sim , o “ para quê ?” e essa experiência de vida que
6 Jornal Vanguarda

Vilson Silva Costa Filho

tenho sempre me demonstrou que , sempre que passo por um problema , vem alguma coisa muito boa em seguida , isso ajuda a gente a fortalecer , a crescer e a amadurecer ...
Logo começou essa coisa de Covid , em que não estávamos acostumados com essa questão de isolamento social , aulas remotas ... Tudo foi muito novo e comigo não foi diferente : procurei evitar o máximo de sair , mas mesmo assim , em junho , a minha esposa começou a ter sintomas , por mais que tenhamos feito todo o protocolo , ela perdeu o paladar e o olfato e eu comecei com uma tosse e s t r a n h a . L e m b r o - m e d e q u e estávamos numa quarta-feira e resolvemos ir ao hospital . Com o resultado positivo para ambos , por conta da saturação , ela já ficou internada e eu voltei para a casa por volta das duas da manhã . E às seis , como sempre , já estava pronto para as aulas remotas , ainda não tinha caído a ficha ... Até que precisei me afastar e a situação foi se agravando , mas chegou uma hora que , por estar sozinho e cada vez mais debilitado , estava torcendo para ser internado , até que fui parar na UTI , uma experiência bem marcante . De repente , você respira e percebe tudo diferente . Isolamento social é fichinha perto do que vivi no hospital ... Quando eu tive alta , voltei para casa e encontrei minha mulher , minha alegria era tanta que eu ria sozinho . Percebi a importância das pequenas coisas , valores de poder andar , respirar , trabalhar ... Gratidão .
Hoje , valorizo cada vez mais estar bem e de podermos voltar às aulas , com a maioria já vacinada , poder olhar direto para os alunos . Por mais que a tecnologia esteja avançada , nada se compara ao poder sentir o ser humano , motivo que fico feliz de ver a nossa Escola recebendo nossos alunos . Por isso , acredito muito que quando passamos por algum problema , não devemos perguntar “ o porquê ?”; mas sim , “ o para quê ?”, isso faz parte do nosso crescimento e a valorizarmos a bênção da vida ! ■
Colaboração : Vilson Costa .