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Segunda-Feira 27/05/2019
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O RACISMO NO FUTEBOL
Redação
O futebol tem a graciosa virtude de unir culturas e povos, sem distinção de credo, raça ou
origem. A linguagem da bola é universal. Contudo, os recentes episódios de discriminação
racial ocorridos nas partidas de futebol em território brasileiro demonstram, de forma
inconteste, que o preconceito é uma chaga que envergonha o nosso país e que tem que ser
erradicada de uma vez por todas. Na obra O negro no futebol brasileiro, Mário Filho relata
que no início do século XX o futebol era praticado quase que exclusivamente por clubes
de engenheiros e técnicos ingleses, além de jovens da elite metropolitana que conviviam
neste espaço. A base dos principais times de futebol era formada por profissionais liberais,
servidores públicos, acadêmicos e bacharéis em direito que monopolizavam os campeonatos
nos bairros de elite. Para se ter acesso ao Fluminense tinha que pertencer à “boa família”,
do contrário, certamente ficaria de fora. Alguns clubes da época demonstravam em seus
próprios nomes sua inegável origem, como, por exemplo: Paissandu Cricket Club, The
Bangu Athletic Club e o Rio Cricket and Athletic Association., sendo que este último era
fechado para ingleses e filhos destes. Já o Bangu, apesar de ser de ingleses admitia negros
em seu elenco, que eram os operários da fábrica e os colocava em pé de igualdade com
os mestres ingleses, o que não acontecia com Botafogo e Fluminense. A quebra deste
paradigma ocorreu somente em 1923 com a vitória do Vasco da Gama que era um clube
de origem popular e que abriu novas oportunidades para a nobre prática desportiva.
A triunfal conquista do Vasco da Gama em 1923 e o bicampeonato estadual no ano
seguinte incomodaram os outros clubes cariocas, afinal, como poderia um time formado
por jogadores negros, pobres e oriundos da periferia ter tanto sucesso dentro das quatro
linhas? Inicialmente tentaram excluir os jogadores que não pudessem assinar a súmula, em
seguida, os clubes de elite se desligaram da Liga organizadora do campeonato e fundaram a
Associação Metropolitana de Esportes Amadores (AMEA). Ao Vasco foi negado o acesso à
referida associação, sob a falsa alegação do clube não ter um estádio próprio, porém, o real
motivo da negativa veio à tona quando foi apresentada uma proposta indecorosa, na qual
o Vasco da Gama seria admitido na AMEA desde que eliminasse do time 12 jogadores,
mais explicitamente os negros, pardos, caixeiros e operários. Independentemente de raça,
credo ou cor os gênios da bola foram os responsáveis pelo fascínio do público em admirar
a arte dentro dos gramados. Muitos craques tiveram este importante papel, apesar de um
número extremamente reduzido destes é que grava seu nome no mural da história. Arthur
Friedenreich foi o primeiro jogador brasileiro a ter sua popularidade reconhecida ao ser
carregado, em triunfo, na vitória do campeonato Sul-Americano de 1919. Sua chuteira
ficou exposta na vitrine de uma joalheria no centro do Rio de Janeiro. É absolutamente
incompreensível que, em pleno século XXI, atitudes irracionais sejam manifestadas por
certos torcedores de determinados clubes. O racismo é um ato criminoso e tem que ser
punido da forma mais severa possível. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva prevê penas
duras para esta prática criminosa, inclusive com a exclusão do clube do torneio*. A exclusão
do time envolvido, daquele campeonato, pode parecer uma pena injusta e desproporcional,
pois, afinal, foi apenas um grupo de indivíduos (não evoluídos) que cometeu o ato. Nada
obstante, a partir do momento em que você pune a agremiação em razão do ato criminoso
praticado por determinado grupo, possivelmente não haverá reincidência, pois, os dirigentes
terão cuidados redobrados no tocante a fiscalização de seus torcedores. Portanto, cabem aos
operadores do direito desportivo a coragem de aplicar a pena prevista no item XI do art. 170
do CBJD e não serem omissos e coniventes com atitudes criminosas e que, portanto, devem
ser banidas do futebol brasileiro.
Fonte: Observatório Racial do Futebol
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