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Sexta-Feira 05/04/2019
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AUTISMO E ESCOLA
Redação
“Nenhuma criança é igual à outra. Por que os autistas seriam?”, resume a professora
Rossana Ramos, da Universidade de Pernambuco (UPE), sobre os desafios que ainda
permeiam a educação inclusiva no Brasil e que, tantas vezes, se colocam como empecilhos
para que alunos com autismo ingressem e permaneçam no sistema regular de ensino.
Se a inclusão começa na matrícula, direito garantido por lei, esta não se encerra aí.
A escola deve oferecer um ambiente onde os alunos autistas se sintam acolhidos,
respeitados e recebam as mesmas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento
integral que os demais estudantes. É somente a partir desta integração participativa
que gestores, docentes e colegas podem então apoiar estas crianças e jovens em suas
especificidades. “Temos que compreender esse sujeito como alguém único, com suas
próprias iniciativas, observando com cuidado seu comportamento, além de valorizar
quaisquer avanços, que possam nos parecer pequenos, mas na verdade são imensos”,
diz Rossana, que é também autora do livro Inclusão na Prática: Estratégias Eficazes para
a Educação Inclusiva. A especialista exemplifica sua fala com um caso. Uma professora
realizava um exercício no qual para cada número que enunciava, os alunos deveriam
mostrar o valor correspondente com modelos feitos em madeira. Agitado com a tarefa
por não conseguir montar as peças, um aluno autista achou uma solução à sua maneira:
levantou-se da carteira e escreveu o número na lousa. Ao receber um aluno autista,
Joana Portolese, da ONG Autismo e Realidade, recomenda à escola, em primeiro lugar,
uma conversa cuidadosa com os familiares, estabelecendo um canal de comunicação
sempre aberto. “A ideia é buscar entender o que a família já sabe que funciona com
a criança, quais tipos de terapia e estímulos ela já está recebendo e tentar descobrir
qual é o papel da escola no seu desenvolvimento”, diz Joana. Como o espectro do
transtorno autista é amplo e se manifesta de diferentes maneiras, para algumas crianças
a dificuldade pode estar na fala, muito embora ela ouça e compreenda perfeitamente
tudo o que é dito. Outros têm menos sensibilidade no tato e precisam destes estímulos
sensoriais. Compreender o que os agrada e causa desconfortos é, portanto, essencial.
Outro passo indispensável é conversar com os professores, mantendo reuniões periódicas
para discussões, relatos de experiências e leituras. Esclarecimentos sobre a condição
também precisam ser disseminados entre o corpo docente e demais funcionários a fim
de desconstruir falácias como aquela que diz que os alunos autistas são menos capazes. É
importante reiterar como estes estudantes, na verdade, têm tempos e maneiras diferentes
de estabelecer relações afetivas e de ensino-aprendizagem. “Uma vez, um aluno autista foi
o único da turma a relacionar corretamente todas as imagens de animais a seus nomes por
escrito. E fez isso muito rapidamente. Só nesse dia descobrimos que ele sabia ler”, conta
Rossana para ilustrar esse potencial e a necessidade de descobrir como trazê-lo à tona. A
realização de atividades coletivas, como explica Rossana, é fundamental para trazer esses
conhecimentos da vida. Ela relembra a história de um aluno autista que só se sentava
ao lado das outras crianças no recreio quando o lanche era preparado coletivamente.
“Quando as crianças traziam os ingredientes e a professora preparava os lanches, todos
dividiam a comida e este aluno se unia ao grupo e interagia”, diz Rossana. Ela conta que
esse momento foi muito importante também para que as demais crianças começassem
a entendê-lo como igual e convidá-lo para outras brincadeiras, chamá-lo pelo nome e
querê-lo por perto. “A estratégia para inclusão é o coletivo, mostrar para todas as crianças
que estar junto é algo bom, e dar oportunidades dos alunos conviverem entre si”, afirma
Rossana. Fonte: Centro de Referências em Educação Integral
COMO ADEQUAR A EDUCAÇÃO DO PAÍS PARA OS ALUNOS QUE REQUEREM CUIDADOS ESPECIAIS?