Jornal do Clube de Engenharia 617 Março/Abril 2021 | Page 12

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debate

Mulheres conquistam espaço , mas não a equidade

Nos últimos anos , o dia 8 de março , Dia Internacional da Mulher , vem perdendo bastante o caráter festivo e recuperando o seu verdadeiro sentido : a luta das mulheres pela igualdade de oportunidades e respeito em um mundo estruturalmente machista . Na Engenharia , o reflexo dessa mudança pode ser comprovado nas salas das universidades , onde elas estão cada vez mais presentes , conquistando espaços e destaques . A igualdade no mercado de trabalho , no entanto , ainda não é uma realidade .
Segundo dados do sistema Confea / Crea , embora haja avanço na participação das mulheres nas entidades de classe e no mercado , apenas 15 % dos profissionais registrados são mulheres . Entre os Creas , em 2018 , a diferença é gritante . Em São Paulo são 329.337 homens e 45.099 mulheres . No Crea-RJ , 203.795 inscritos são homens , contra 28.763 mulheres . Em nenhum Crea o número de mulheres supera em pelo menos 30 % o de homens .
Para mudar esse panorama , foi criado em 2018 o Programa Mulher , que tem como objetivo contribuir para que o país alcance a igualdade de gênero e empodere mulheres e meninas , uma das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável ( ODS ) da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas .
Problemas estruturais
Esse momento de avanços , ainda longe da equidade , se manifesta no cotidiano de engenheiras nos canteiros de obras que , claramente , não são montados levando em consideração a presença delas nas equipes de obras . “ Já passei por dificuldades em obras de túneis nas quais não havia botas do meu tamanho , nem banheiro feminino . Eu tentava andar pelo canteiro e ficava presa na lama ”, conta Daniela Garroux , tesoureira do Comitê Brasileiro de Túneis CBT e consultora da TunGeo . Ela e outras sete mulheres da área tecnológica fizeram uma live no início de abril para trocar experiências e impressões sobre a participação da mulher na engenharia , geologia , geotecnia etc . A organização foi do próprio CBT , da Associação
Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica ( ABMS ).
Diferentes gerações se encontraram no debate virtual . Entre as profissionais mais novas , a percepção é de respeito e normalidade , principalmente por já terem entrado no mercado sob lideranças femininas pioneiras . Paula Maia , coordenadora de anteprojeto civil e traçado do Metrô de São Paulo destaca isso . “ Quando entrei no Metrô tive muitas chefes mulheres ”. Magali Gurgueira , geóloga projetista e consultora da MaisGeo / CJC Engenharia , também lembra a importância dessas desbravadoras . “ Não faço parte da geração pioneira . Fui liderada por várias mulheres e aprendi muito com elas . Isso sempre fez parte do meu convívio . Já faço parte de uma geração que a presença feminina sempre foi muito forte , inclusive Na área de túnel . Não somos maioria ,
Moderada pela geóloga Daniela Garroux , do Comitê Brasileiro de Túneis ( CBT ), a mesa-redonda “ Mulheres na área de escavações subterrâneas ” reuniu profissionais da área para discutir os desafios do mercado para as mulheres tuneleiras . mas acredito que temos um cenário com presença feminina crescente e relevante nas obras subterrâneas ”, comemora a geóloga .
Já as profissionais da “ geração pioneira ” viveram outra realidade . E não faz muito tempo . “ Quando estava no doutorado , participei de um congresso internacional em 1999 em Campos do Jordão no qual eu era a única mulher levando um trabalho para apresentar . Em São Paulo há uma dinâmica maior entre nós profissionais , mas na mineração é um pouco diferente . Muitas vezes eu entro em reuniões nas quais sou a única mulher . Algumas colegas engenheiras muito boas trabalham comigo , mas ainda é bem menos do que vemos em São Paulo ”, conta .
“ Um subordinado me parabenizou pelo cargo de chefia enfatizando ‘ principalmente por você ser mulher ’’, contou a engenheira Renata Rocha , que destacou , ainda , que “ na pandemia , profissionais competentíssimas tiveram que ficar em casa com os filhos enquanto seus maridos seguiram trabalhando ”.
Há muito caminho a percorrer , mas elas estão lá , decididas a conquistar o que ainda falta para instituir a igualdade de gêneros e entre os profissionais das engenharias e correlatas .
Confira o encontro das profissionais da área de escavações subterrâneas em ( 1034 ) Mulheres na área de escavações subterrâneas - YouTube

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