Jornal do Clube de Engenharia 615 | Page 5

Falta estratégia para indústria nacional de telecomunicações
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novembro / dezembro de 2020 e janeiro de 2021 tecnologia
tos ( como antenas ) utilizados na implementação do 5G no Brasil , os EUA propuseram às autoridades brasileiras , em outubro , fundos para financiar a construção de infraestrutura da tecnologia por aqui .
Para Patusco , o banimento da Huawei teria implicações negativas para o mercado nacional . “ Maiores custos , menor diversidade e atraso em implementação de novas facilidades podem ser citadas como perdas possíveis com a exclusão da Huawei . Obviamente isto acabará por ser repassado aos preços para o usuário final . A Huawei é a maior fornecedora mundial de equipamentos de redes de celular , detêm reconhecidamente o melhor time to market e os menores preços de equipamentos e sistemas . São fornecedores da maioria dos prestadores mundiais de celular , inclusive os da própria China que tem a maior rede mundial com cerca de 800 milhões de aparelhos , e também o Brasil , quarta rede mundial de celulares com cerca de 200 milhões de aparelhos ”, avalia o conselheiro .
“ O alinhamento com uma posição americana pode impactar nosso país no relacionamento com a China , seu maior parceiro comercial , além de poder configurar uma ação ineficaz pelo eventual encaminhamento que será dado à questão pelos democratas após a recente eleição americana . Portanto , não vemos com nitidez nenhuma vantagem adjacente que possa ser arguida para justificar um alinhamento com os EUA no banimento de um fornecedor . Aliás esta é a posição que as operadoras de celular no Brasil também vêm expressando . Afinal , são elas que vão pagar bilhões e bilhões de reais pelas frequências no leilão do 5G e que teriam que adquirir injustificadamente mais caro também os equipamentos de rede ”, explica .
Atrasos no 5G brasileiro
A disputa entre EUA e China se soma a um atraso nos leilões das frequências do espectro eletromagnético em que operarão as antenas de 5G no Brasil . Em janeiro de 2020 , o jornal do Clube de Engenharia noticiou que a Agência Nacional de Telecomunicações ( Anatel ), apesar de ter regulamentado o uso das faixas de 2,3 GHz e 3,5 GHz em 2019 , adiou seu leilão , que ocorreria no início de 2020 , para 2021 .
“ Uma das frequências do leilão do 5G , a de 3,5 GHz , que em conjunto com as frequências de 700 MHz , 2,3 GHz e 26 GHz formam um espetacular leilão de blocos para a nova geração dos celulares , tem um problema ainda não resolvido pela Anatel . Esta faixa atualmente é ocupada pelas transmissões de TV aberta , se constituindo atualmente em cerca de 10 milhões de parabólicas espalhadas pelo país , que deverão , ou conviver , com a inclusão de filtros , com o celular , ou serem movidas para a faixa disponível da banda Ku de 12 GHz ”, contextualiza Marcio Patusco .
As operadoras de celular e os radiodifusores de TV estão em lados opostos nesta discussão . Ambas as soluções apresentam vantagens e desvantagens , explica o conselheiro , sendo a colocação de filtros a indicada como mais adequada pela Anatel . “ Foram realizados testes de laboratório e de campo durante o ano de 2020 , que acabaram em parte impactados pela pandemia , e que finalmente esperam por uma decisão da agência . Daí a razão para os atrasos . Acredita-se que o leilão poderá ocorrer no primeiro semestre de 2021 , com as primeiras instalações do 5G , trazendo todas as suas potencialidades de velocidade , latência e aplicações , se efetivando em finais desse mesmo ano ou no início de 2022 ”, aponta Patusco .

Falta estratégia para indústria nacional de telecomunicações

Se , por um lado , a guerra comercial e os atrasos no 5G expõem o Brasil , podendo trazer prejuízos no comércio exterior e na diplomacia , por outro , pode ser uma oportunidade de fomentar o desenvolvimento nacional de telecomunicações .
” A adoção de diversidade de fornecedores estimula a competição e sempre introduz alternativas de solução que mais se adequem a uma realidade nacional . Esta é uma oportunidade para o fomento de P & D e de desenvolvimento de uma cadeia produtiva nacional , que desde a privatização passou a ter uma componente diminuta no fornecimento de equipamentos e sistemas para o setor , num país que já foi exportador de eletroeletrônicos na década de 90 , e que passou a importador com déficits seguidos na balança comercial , que atualmente beiram os 30 bilhões de dólares anuais . Cabe à Anatel e ao Ministério das Comunicações estabelecer os requisitos que apoiem essas iniciativas ”, avalia Patusco .
“ Na privatização ocorrida em 1998 não houve preocupação efetiva em se apoiar P & D nem a indústria local , que naqueles tempos era responsável por quase metade dos fornecimentos para equipar as diversas redes de telecomunicações existentes . A indústria local nas décadas de 70 , 80 e 90 se constituía em importante núcleo de desenvolvimento de soluções adequadas à realidade nacional , tais como sinalização telefônica via satélite , orelhões , cartões indutivos , centrais de comutação , equipamentos de rádio e fibra ótica , entre outras . O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento - CPqD - da Telebrás , e suas incubadas , era considerado o maior centro de desenvolvimento fora do eixo EUA , Europa , Japão . Aos poucos as indústrias foram sendo desmanteladas e o surgimento de novas se deu de forma tímida ”, relembra o conselheiro .
Assim , principalmente a partir dos anos 2000 , as aquisições de novos equipamentos e sistemas pelas prestadoras de serviços privadas migraram para o mercado internacional . “ Os recursos públicos destinados a este desenvolvimento pós privatização — os fundos de Universalização dos Serviços de Telecomunicações ( Fust ), para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações ( Funttel ) e de Fiscalização das Telecomunicações ( Fistel ) — foram criados , mas seguidamente contingenciados para outras finalidades .”
Para que o setor retome seu caminho desenvolvimentista , deve haver vontade política aliada a um planejamento de médio e longo prazos que identifique continuamente áreas tecnológicas que possam ser objeto de fomento no interesse nacional e possam vir a alavancar o país para uma situação mais cômoda entre aqueles que detêm as maiores redes de telecomunicações do mundo ”, finaliza Marcio Patusco .
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