Jornal do Clube de Engenharia 611 (Fevereiro de 2020) | Page 4

ECONOMIA BNDES: desafios para o banco que impulsiona o desenvolvimento nacional Mesmo após auditoria milionária não encontrar quaisquer irregularidades, sobrevivência da instituição financeira continua em jogo. Um dos mais importantes mecanis- mos de Estado na condução de polí- ticas econômicas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criado em 1952, enfrenta o período mais delicado de sua história. Em 2018, após notícias na imprensa sobre a existência de uma suposta “caixa preta” nos fi- nanciamentos do banco, o Governo Federal encomendou uma auditoria externa — que, ao todo, custou 48 milhões de reais. Os resultados, di- vulgados, em dezembro de 2019, não apontaram quaisquer irregularidades nos mais de 340 mil documentos analisados. O que poderia significar o fortalecimento do BNDES, entre- tanto, não cessou as tentativas de minimizar a importância do banco para a real retomada do desenvolvi- mento nacional. Auditoria milionária Diretor técnico do Clube de Enge- nharia e ex-assessor da presidência do BNDES na gestão de Luciano Coutinho, o Engenheiro Químico José Eduardo Pessoa de Andrade afirma que a suposta “caixa-preta” foi uma notícia falsa que ganhou espa- ço pelo desconhecimento da forma como o banco atua. 4 “A expressão ‘caixa-preta’ foi esco- lhida em função do forte impacto de propaganda negativa”, explicou ele, que também é engenheiro aposen- tado do BNDES. “Mas é preciso conhecer primeiro como são proces- sados internamente os financiamen- tos para apresentar críticas pertinen- tes que contribuam para aperfeiçoar esses processos. Se não, passaremos a viver apenas no território das ‘fake news’, onde se quer destruir irrespon- savelmente o que foi construído na história do desenvolvimento de nosso país e de suas empresas, privadas e públicas”, criticou. A auditoria contratada se concentrou em apurar suspeitas de violação de leis anticorrupção em oito operações do banco, realizadas entre 2005 e 2008 com as empresas JBS, Bertin e Eldorado Brasil Celulose. A inves- tigação foi realizada pelo escritório estrangeiro Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, além do brasileiro Levy & Salomão, e a conclusão do documento divulgado diz que as de- cisões do BNDES foram realizadas considerando “os riscos e potenciais benefícios para o banco” e que os documentos e entrevistas analisados “não indicaram que as operações tenham sido motivadas por influên- cia indevida sobre o banco, nem por corrupção ou pressão”. Chamou atenção da sociedade o alto valor da auditoria — principal- mente levando-se em consideração o cenário de crise econômica e de ajustes fiscais no Governo Federal. Prevista inicialmente para custar 28 milhões de reais, o contrato recebeu aditivos ao longo dos quase dois anos de investigação até chegar ao valor final, de 48 milhões de reais. No final de janeiro deste ano o Tribunal de Contas da União (TCU) pediu explicações sobre o valor gasto. “A magnitude do gasto está associada ao volume do trabalho de investigação Entre 2007 e 2015, último ano com dados disponíveis de forma organizada, o BNDES movimentou uma rede de 4.044 fornecedores: 2.785 eram micro, pequenas e médias empresas (MPMEs). O número total de empregados desses fornecedores aumentou de 402 mil, em 2007, para 788 mil em 2014. Foram empregadas, em média, 590 mil pessoas por ano. dos documentos que registram as operações realizadas pelo BNDES. Só podemos avaliar a justificativa desse valor se tivermos conhecimento da proposta e dos trabalhos que fo- ram incluídos no âmbito da proposta e de seu reajuste”, disse Andrade.