Jornal do Clube de Engenharia 608 (Novembro de 2019) | Page 8
Meio ambiente
O papel das
universidades
Impactos ainda incalculáveis
Mesmo com a gradual redução
do óleo na costa, segundo autori-
dades locais, ao todo 17 praias no
Nordeste, localizadas na Bahia,
Alagoas, Paraíba, Rio Grande
do Norte, Sergipe e Piauí, estão
impróprias para o banho por
causa da tragédia. O prejuízo em
toda a cadeia econômica ligada
ao mar — que envolve pescado-
res, marisqueiras e vendedores
ambulantes — é sensível.
Além do prejuízo econômico, o
óleo atingiu importantes áreas
de preservação ambiental, como
a Ilha de Santa Bárbara, no
arquipélago de Abrolhos, no sul
da Bahia, um parque nacional
marinho sob a responsabilidade
do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). O impacto real do
derramamento nos ecossistemas
marinhos ainda é desconhecido,
afirma o prof. Rodrigo Moura:
“A chegada do óleo foi hetero-
gênea, e cada ecossistema vai se
recuperar em um ritmo dife-
rente, a depender da magnitude
do impacto e das estratégias
de remediação, inclusive de
biorremediação. A inação, ou a
negação da gravidade do evento
em andamento certamente ampliará
suas consequências negativas em
médio e longo prazo. Mensurar
o impacto tem que fazer parte da
estratégia de resposta, inclusive para
que novas contingências sejam mais
bem enfrentadas, para a eventual
responsabilização dos culpados, e
também para que um novo referen-
cial sobre o estado dos ecossistemas
da costa seja construído”, pondera
ele, que avalia a necessidade de
envolver a Agência Nacional do Pe-
tróleo (ANP) e o setor de petróleo e
gás na questão.
Os desastres de grande porte no
Golfo do México (2010, Deepwater
Horizon), no Alasca (1989, Exxon
Valdez), e na própria Guerra do
Golfo (1991) resultaram, segundo
Moura, em aprendizado significativo
sobre o que deve e o que não deve ser
feito em derramamentos como esse.
Finalmente, a demora em acionar
o Plano Nacional de Contingên-
cia (PNC) reflete, segundo o prof.
Rodrigo Moura, uma mentalidade de
descaso em relação à pauta ambien-
tal. “É inaceitável que o país com a
maior biodiversidade no planeta siga
demonstrando à comunidade inter-
nacional que subestima a vantagem
estratégica que as riquezas natu-
rais nos conferem no processo de
desenvolvimento socioeconômi-
co”, diz ele, lembrando de outras
tragédias ambientais recentes,
como os rompimentos de bar-
ragens em Minas Gerais e as
queimadas na floresta amazônica.
“Nossa produção não depende
de mais degradação, muito pelo
contrário. O protagonismo global
brasileiro na área ambiental, mo-
mentaneamente perdido, deveria
ser encarado como prioridade nas
nossas relações exteriores”, avalia.
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Para a vice-diretora da CO-
PPE/UFRJ, Suzana Klein,
a universidade pública tem
sido primordial na produção
de dados que possam auxiliar
na redução dos danos causados
por tragédias ambientais como a
que o país vive agora. “A Ciência
tem papel de aprimorar e avançar no
conhecimento, mas depois cabe aos
órgãos competentes atuar. O papel
da universidade é não só ter uma
postura crítica em relação às ações
do governo, mas também informar
à sociedade os riscos associados a
problemas desse tipo, além de formas
de evitá-los”, explica a professora.
Além do Lamce, outros laboratórios
da COPPE ligados à área de pesqui-
sa em costas, engenharia oceânica e
áreas vulneráveis estão produzindo
dados a respeito do derramamento
no Nordeste. “O que as pesquisas
podem fazer é diminuir o tempo de
resposta, ter um processo mais ágil
de identificação, usar inteligência
computacional, utilizar simulações
desde o momento em que se iden-
tifique uma mancha de óleo. É isso
que buscamos, seja com pesquisa
ou capacitação”, afirma o prof. Luiz
Landau, coordenador do Lamce/
COPPE. (Reportagem com a colabo-
ração do Diretor Técnico do Clube de
Engenharia, Artur Obino).