Jornal do Clube de Engenharia 608 (Novembro de 2019) | Page 7

novembro DE 2019 O PAÍS em 8 de outubro. “Essa etapa do PNC deveria ter sido vencida poucos dias após a constatação do derrama- mento”, diz ele. “Num evento desse tipo, uma das prioridades é conter o máximo possível dos resíduos antes do toque na costa. Depois que o óleo se agrega ao sedimento, mangues e recifes, a limpeza é muito mais custo- sa e menos eficiente. E é importante observar que mesmo quando o óleo não está mais visível, uma série de substâncias nocivas dissolvidas, como os chamados PAHs (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos), permane- cem circulando no ecossistema e nos organismos, inclusive nos recursos pesqueiros”, alerta. Neste contexto, o prof. Luiz Lan- dau aponta a falta de comando para executar o plano. “O PNC é bem ela- borado, mas além de demorar muito tempo para ser aprovado, não fun- ciona e nem vai funcionar enquanto não houver condições por parte de quem comanda o plano. Se não tiver ninguém para liberar e coordenar o que vai ser feito, a situação fica con- fusa como podemos constatar agora, quando muitas pessoas querem fazer ação voluntária lidando diretamente com o óleo de maneira completa- mente errada. Até agora não houve ação coordenada”, esclarece. Como o número de localidades afetadas não para de crescer, o prof. Rodrigo Moura alerta sobre a ne- cessidade de se intensificar as ações. “Houve uma melhora sensível na res- posta, com mobilização de servidores e meios ao longo da costa brasileira. A colocação de barreiras ainda é pertinente, assim como a distribuição de EPIs e a destinação adequada dos resíduos. A vigilância epidemiológi- ca e o monitoramento da qualidade ambiental e do pescado precisam ser intensificados”, calcula. Outra questão chave é, segundo o pesquisador, a comunicação com a Fotos: SOS Mangue Mar população. “É preciso informar sobre os procedimentos e riscos. A comu- nicação inadequada que emanou do Ministério do Meio Ambiente (insinuações contra Organizações Não Governamentais — ONGs) e do Ministério da Agricultura (que recomendou consumo de peixe, uma vez que os animais são espertos e fo- gem do óleo) foi lamentável. Diante de uma situação dessas a comuni- cação dos agentes públicos tem que ser precisa e responsável”, questiona. Vale registrar, ainda, que no dia 12 de novembro o Ministério da Agri- cultura afirmou, citando estudo feito na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), que amostras de peixes coletadas em áreas atingidas pelo petróleo estavam “próprias para o consumo”. No entanto, o coorde- nador do Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM), que realizou a pesquisa, afirmou à imprensa que os dados não permi- tiam afirmar que a pesca e consumo estavam liberadas, e que mais dados precisavam ser coletados antes de haver uma resposta. Segunda onda de óleo em Abrolhos, Reserva Extrativista do Corumbau duramente atingida. Propostas Com base na inseparabilidade das dimensões ambiental, social e econô- mica, o Clube de Engenharia propõe medidas cabíveis do poder públi- co, da sociedade civil e da população em geral para atuação no desastre analisado: 1- Os governos federais, estaduais e municipais têm que atuar de forma ágil, eficiente e permanente na coordenação, monitoramento e mitigação dos impactos ocasionados pelo vazamento do óleo neste momento e também nos momentos posteriores, pois fragmen- tos do vazamento continuam viajando pela costa, existirão novas situações de vazamento que ocorrem nos poços em operação ou em descomissionamento, também em possíveis vazamentos futuros de transportadores de óleo no oceano Atlântico. 2- Analisar os procedimentos internacionais para segurança do trans- porte de óleo por navios e respectivos planos internacionais de contingenciamento. 3- Colocar em prática, conforme o Plano de Nacional de Contingên- cia, a articulação permanente com as empresas do setor de petróleo para o apoio à prevenção e monitoramento dos vazamentos de óleo. 4- Estudar e estabelecer, em conjunto com os representantes das comunidades atingidas pelo desastre, projetos que sistematizem as ações de mitigação do impacto, a partir das experiências locais e outras mais abrangentes. 5- Propor à ANP definir como prioridade os programas de P&D que foquem: em planos de contingências de vazamento associa- dos a mitigação dos impactos; incentivar pesquisas para soluções de médio e longo prazo dos efeitos acumulativos e perturbadores na vida animal nos locais afetados; estudar medidas de segurança alimentar a partir do consumo humano do pescado afetado. 6- Propor a formação de um Conselho Nacional para Gestão das Contingências com a participação dos órgão públicos e da socie- dade civil. 7