Jornal do Clube de Engenharia 607 (Outubro de 2019) | Page 7

outubro DE 2019 Por que a dívida da Petrobrás cresceu? A resposta para a pergunta é simples e não tem nada a ver com descontrole das contas. Os investimentos da empresa cresceram muito na última década para viabilizar a exploração do Pré-Sal recém descober- to em águas profundas. Desde 2005, a Petrobrás planeja o seu desenvolvimento e produção para as próximas décadas. “Entre 2010 e 2014 a empresa investiu mais de US$ 200 bilhões no Pré-Sal”. No período entre 2010 e 2014 esse investimento aqueceu a indústria nacional naval e de petróleo, que também tinha o incentivo das políticas de conteúdo local que exigiam que a exploração do petróleo fosse feita dando preferência às indús- trias nacionais. O retorno não é pouco. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Indus- trial – ABEIN, para cada 100 dólares investidos na Petrobrás, cerca de 650 dólares são gerados em investimento em outros setores: a Petrobrás alavanca o país. Ou melhor, alavancava. No final de 2014, ainda no Governo Dilma, as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás fizeram esse investimento parar subitamente. Outro ponto importante foi o valor do dólar. Cerca de 80% da dívida da Petrobrás é feita no exterior e a moeda é o dólar americano. Em 2015, quando o preço do dólar subiu de R$ 2,66 para R$ 3,95, a dívida subiu de R$351 bilhões para R$ 492 bi- lhões. Os números mostram o impacto do câmbio: apenas em 2015 a dívida foi superior à receita da empresa. Veja abaixo os números de Receita Bruta x Dívida Bruta de 2012 a 2016: Receita Bruta e Dívida Bruta em R$ bilhões 2012 2013 2014 2015 2016 DÍVIDA BRUTA 196,10 267,61 350,85 492,65 384,99 RECEITA BRUTA 353,07 387,78 425,35 414,86 373,81 Malabarismo numérico Sustentar uma farsa não é fácil quando se trata de empresas. Em comparação com as grandes empresas do setor, como a Chevron, Exxon, Shell e Total, a Petrobrás está melhor, uma vez que tem à disposição o Pré-Sal para explorar – ou pelo menos tinha, uma vez que cada vez mais perdemos nossos campos em novos leilões. Para justificar a venda dos bens nacionais era preciso mais e a direção da Petrobrás, a partir de 2017, passou a antecipar o pagamento da dívida antes que o investimento desse o retorno, que era es- perado para 2020 em diante. “Fizeram isso fora do tempo adequado, antecipando para 2018 a redução dos investimentos. Se não tivessem feito isso, não seria necessário privatizar os US$ 19,5 bilhões de ativos até 2021. Foi essa a forma que encontraram para justificar o massivo desinvesti- mento, a toque de caixa. Baseado nesta pretensa necessidade de redução da dívida, em 2016 fo- ram vendidos ativos no valor de US$ 13 bilhões e apenas US$ 2 bilhões desses recursos entraram no caixa da empresa”. Divulgação/Petrobrás Para mostrar o completo absurdo em considerar a Petrobrás uma empresa quebrada, Felipe com- para seu caixa com o da maior petroleira ame- ricana, a Exxon, que tem um faturamento anual maior que o dobro da Petrobrás. Ele aponta que, mesmo assim, o balanço da Exxon, que ninguém acredita ser uma empresa quebrada, é muito menor que o da Petrobrás. Como, então, estaria a Petrobrás quebrada? Veja abaixo a tabela com essa comparação: Saldo de Caixa em US$ bilhões (31 de dezembro) 2012 2013 2014 2015 2016 EXXON 9,58 4,65 4,62 3,71 3,65 Petrobrás 13,52 15,87 16,66 25,06 21,20 Mas não é possível enganar todo mundo o tempo todo. Em entrevista coletiva em janeiro de 2017, o então diretor financeiro da empresa, Ivan Montei- ro, foi questionado se caso a meta estabelecida para o pagamento das dívidas fosse atingida antes do tempo, as privatizações seriam canceladas, uma vez que não seriam mais necessárias. Ele respondeu que não: elas seriam mantidas. “Isso revela clara- mente que a venda dos ativos da Petrobrás não tem relação com uma necessidade financeira real”, aponta Felipe. Estamos em 2019 e o “Mito da Petrobrás Quebra- da” segue sendo usado para justificar a maior vio- lência que a soberania nacional e o povo brasileiro vêm sofrendo nos últimos tempos, com a venda de nossas riquezas. 7