Jornal do Clube de Engenharia 607 (Outubro de 2019) | Page 6
Defender a
Petrobrás
é defender
o Brasil
A Petrobrás nunca esteve quebrada
Fonte: Cláudio Oliveira, economista aposentado da Petrobrás e Felipe Coutinho, engenheiro químico e presidente
da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET). Artigo “O mito da Petrobrás quebrada”, de maio de 2017.
A Petrobrás, orgulho do povo brasileiro, com papel
fundamental na construção de um Brasil Soberano,
completa 66 anos de história. Digna de todas as
homenagens, ostenta um passado recente que vem
potencializando esse sentimento, graças às grandes
conquistas representadas pela descoberta e a explo-
ração do Pré-Sal. Comemora, ainda, os feitos que
a levaram a ser ganhadora de três prêmios Nobel
de Engenharia de Produção e de se transformar na
maior empresa do Hemisfério Sul. Um cenário que
não permitiu , na guerra mundial pelo petróleo,
que o capital internacional conseguisse colocar em
prática antigos planos de retirar do país a vitoriosa
bandeira “O Petróleo é Nosso”.
A partir de 2016, com a Lava Jato à frente e as
delações premiadas, a estratégia usada para justi-
ficar o desmonte da Petrobrás e garantir os leilões
do Pré-Sal é bastante conhecida: a companhia
precisava ser desacreditada junto à opinião pú-
blica antes de ser retalhada e vendida. Os leilões
como os que acontecerão em breve também preci-
savam ser justificados de alguma forma. Foi assim
que nasceu o que Cláudio Oliveira, economista
aposentado da Petrobrás, e Felipe Coutinho,
engenheiro químico e presidente da Associação
dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) chama-
ram, em artigo de maio de 2017, de “O mito da
Petrobrás quebrada”.
Com a entrada em cena da Lava-Jato, a empresa
apresentada pela mídia nacional como um “an-
tro de corrupção”, a justificativa oficial foi tentar
convencer o Brasil de que o progressivo desmonte,
pedaço por pedaço, seria a única saída para “salvar”
a empresa. O que se propõe, como veremos a se-
guir, é a perda gigantesca de 34 bilhões de dólares
até 2021, que deixarão de ser do povo brasileiro e
passarão a ser de propriedade de empresas estran-
geiras. No contraponto, cresce um movimento não
comprometido com o plano de venda do patri-
mônio nacional, que desmente os argumentos que
transformam a Petrobrás em uma empresa sem
capacidade de investimento.
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A farsa da dívida galopante
O endividamento em uma companhia de petróleo
não funciona como nos demais setores. É preciso
entender como o setor do óleo e gás funciona no
mundo inteiro para compreender totalmente como
uma mentira vem sendo usada para roubar um país
inteiro à luz do dia. “Na indústria do Petróleo é
comum o uso do que é chamado de ‘alavancagem’.
Funciona assim: as empresas usam recursos empres-
tados hoje para garantir um lucro muito maior que
esse empréstimo à frente. Isso acontece porque os
projetos em uma empresa do setor são sempre de
longo prazo. Os investimentos levam cerca de 10
anos para começar a gerar caixa. As decisões toma-
das darão retorno em uma década, da mesma forma
que os resultados de hoje são fruto de decisões de 10
anos atrás”, explica o presidente da AEPET.
Então há uma dívida? Sim, mas isso tem sido
usado de forma enganosa e irreal. A Petrobrás tem
uma dívida que, como em qualquer outra empresa
do setor no mundo, é positiva, uma vez que será
facilmente paga à medida que esses investimen-
tos começarem a dar retorno. Na verdade, o que
costuma ser chamado de “dívida da Petrobrás” se
refere aos investimentos feitos pela companhia
para a exploração de uma das maiores descobertas
de recursos que o mundo já viu: o Pré-Sal.
Esse mesmo “endividamento”, que no caso da
Petrobrás é apontado como um problema, costuma
ser usado por empresas multinacionais privadas
que fazem dívidas para entregar aos acionistas e
comprar suas próprias ações para valorizá-las. No
caso da Petrobrás, no entanto, o quadro é bem me-
lhor que esse: a empresa faz uma dívida controlada
e totalmente gerenciável para gerar lucro suficiente
não só capaz de pagar as dívidas como de garantir
altos investimentos para o futuro do país.
Endividada, mas cobiçada?
É no mínimo curioso que uma empresa que é taxada
como se tivesse problemas financeiros graves atraia
o interesse de tantos grupos internacionais, mui-
tos deles estatais, sempre prontos para adquiri-la,
como revelou o vazamento de documentos oficiais
do Wikileaks. Isso acontece porque, além de não
existir de fato endividamento negativo, o Brasil tem
um mercado potencial gigantesco. O consumo de
energia no Brasil ainda é baixo se comparado ao dos
países desenvolvidos, e quem compra a Petrobrás
ganha de brinde todo esse mercado potencial.
Não é diferente em outros setores: empresas bási-
cas, como as de papel, celulose, siderurgia, mine-
ração, entre outras. As empresas tomam emprés-
timos via linhas de crédito e, enquanto os projetos
não começam a ser executados, pagam apenas os
juros. A dívida começa a ser paga quando o projeto
é de fato implementado e começa a gerar caixa e
lucros. “A diferença da indústria do Petróleo está
no tempo necessário para colocar um projeto em
prática. Só após dez anos, em média, o lucro come-
ça a entrar no caixa. Como não existem linhas de
crédito de dez anos, as empresas ‘rolam a dívida’ até
que os projetos comecem a ser executados”.
A dívida da Petrobrás evoluiu, de 2009 a 2017, da
seguinte forma:
Dívida Bruta em US$ bilhões
2009 2010 2011 2012
2013
2014
2015
2016
57,47 69,43 86,79 95,96 114,24 136,04 126,16 118,37
Fonte: Relatórios anuais Petrobrás
Segundo a Associação Brasileira de
Engenharia Industrial (ABEIN), para cada
100 dólares investidos na Petrobrás, cerca de
650 dólares são gerados em investimentos em
outros setores: a Petrobrás alavanca o país.
Ou melhor, alavancava.