Jornal do Clube de Engenharia 606 (Setembro de 2019) | Page 4
cidade
Sociedade e Poder Público debatem
o rumo da estação Gávea do Metrô
No início de setembro as obras da
estação Gávea da Linha 4 do Me-
trô do Rio de Janeiro retornaram às
páginas de jornais. O governador
Wilson Witzel anunciou que iria
aterrar o canteiro que hoje se en-
contra alagado. A decisão do Gover-
nador – que mantém a posição – é
criticada pelos especialistas. Entre os
técnicos, o debate já havia voltado à
pauta após a apresentação de estudo
da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro. A PUC-Rio teve
acesso aos documentos oficiais guar-
dados pela Rio Trilhos e, com base
neles, apresentou a atual situação do
canteiro de obras localizado em seu
estacionamento.
Em um auditório lotado, o professor
do departamento de Engenharia
Civil e Ambiental da PUC-Rio
apresentou os dados oficiais entre-
gues à PUC por meio de um termo
de cooperação técnica entre o Estado
do Rio de Janeiro e a universidade. A
Rio Trilhos foi representada na mesa
do evento por Bruno Bezerra, diretor
de engenharia da companhia.
4
Para viabilizar a construção da esta-
ção, foi necessário rebaixar o lençol
freático em sete metros na região
dos poços, o que causou recalques
(afundamento do solo) importan-
tes aos edifícios ao redor da obra.
Em agosto de 2017 as bombas que
mantinham o canteiro de obras seco
foram desligadas e todo o espaço foi
inundado gradualmente. “Os relató-
rios dizem que o desligamento das
bombas visou paralisar a infiltração
de água nas paredes de concreto
projetado, que ocorriam por causa da
diferença de pressão entre a rocha e a
parte externa das escavações, além de
paralisar ou minimizar os movimen-
tos de recalque no terreno”, conta o
professor.
Impactos apontados pelos
dados oficiais
Os recalques decorrentes do rebai-
xamento do nível d’água não são
considerados desprezíveis. “O pro-
cesso de adensamento do solo provo-
cou recalques de até 8 centímetros”,
destaca o professor. Os equipamentos
demonstram que os recalques acon-
teceram por conta do rebaixamento
do lençol freático. Agora, inundada a
estação, a água subiu acima de cinco
metros de onde naturalmente estava, o
que, segundo o professor, pode causar
danos aos edifícios acima da rua Mar-
quês de São Vicente. Não há dados
disponíveis para medir esse impacto.
Ao considerar os riscos, Tácio destaca
que eles costumam ser medidos por
probabilidade versus consequência, e
que isso é muito difícil de ser men-
surado com as informações dispo-
nibilizadas pela Rio Trilhos. Tácio
informa que durante a obra é comum
ter estruturas provisórias, mas com
a obra parada, há risco. “Existe uma
norma brasileira 5629 de 2018, recém
atualizada, que determina que vida
útil de tirantes provisórios são de dois
anos a partir de suas instalações. Eles
foram instalados em 2015 e estamos
em 2019”, questiona.
Com participação ativa e per-
manente em fóruns de discus-
são, atento aos desafios da con-
solidação de políticas públicas
que atendam aos interesses
da população, o presidente do
Clube de Engenharia, Pedro
Celestino, vem se posicionan-
do publicamente em defesa da
conclusão da estação Gávea do
Metrô.
O debate, que já acontecia entre
técnicos e gestores públicos, se
acirrou com a decisão do Go-
verno do Estado, de aterrar o
canteiro, que está com as obras
paralisadas desde 2015. O ar-
gumento antes utilizado, do
alto custo para a conclusão, em
torno de 1 bilhão, teve como
base o cálculo do Tribunal de
Contas do Estado, que estima
que para estabilizar a estrutu-
ra e evitar perigo no entorno,
o Estado teria que fazer novos
investimentos que chegariam a
R$ 300 milhões.
Hoje o aterramento parece não
estar mais em pauta e a propos-
ta governamental é garantir os
recursos para dar continuidade
às obras e entregar à cidade a
Estação Gávea.
A dificuldade em planejar o futuro
está na falta de informações: não
há dados suficientes para atestar
a segurança das obras paradas há
quatro anos. O pouco que se tem de
concreto aponta possíveis riscos na
estabilidade do empreendimento,
mas muitos dos dados necessários
para conhecer a extensão dos danos
ainda não foram encontrados. Em 21
de agosto, o professor Tácio Mauro
Pereira de Campos, engenheiro civil
com doutorado em Mecânica dos
Solos pelo Imperial College, Lon-
dres, apresentou os resultados do
estudo na palestra “Estação Gávea do
Metrô: existem riscos? Há soluções?”,
no Clube de Engenharia.
Tácio apresentou todo o histórico
registrado nos documentos, desde
o início das obras em 2013, quando
foram escavados os poços sul e oeste,
cada um com nove metros de diâ-
metro e 35 metros de profundidade,
para dar acesso ao local onde está a
estação. “Com 57 metros de profun-
didade e 15 níveis topográficos, a
estação é muito profunda e ainda está
inacabada. Somente 25% das esca-
vações foram executadas e todas as
estruturas de contenção são provisó-
rias”, destacou o professor.
Clube defende
finalização das obras
Especialistas são tecnicamente contrários ao aterramento do canteiro de obras da estação Gávea do Metrô.
Entre os muitos argumentos de
Pedro Celestino e especialistas
da área, entre eles técnicos do
Estado e da Pontifícia Uni-
versidade Católica (PUC-Rio)
que se posicionaram tecnica-
mente contrários ao aterra-
mento do canteiro, está a certe-
za de já ter expirado a vida útil
das estruturas metálicas provi-
sórias usadas na construção da
estação.