Jornal do Clube de Engenharia 605 (Agosto de 2019) | Page 9

agosto DE 2019 CIÊNCIA & TECNOLOGIA Ex-presidentes se mobilizam em defesa da FINEP No dia 15 último, o Clube de Enge- nharia realizou Ato em Defesa da FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos, com o objetivo de criar um movimento político nacional em defesa daquela empresa pública, ameaçada de extinção. O encontro, moderado pelo presidente Pedro Celestino, contou com a presença do primeiro vice-presidente da FINEP, Alexandre Henriques Leal e dos ex-presidentes Gerson Ferreira Filho, João Luiz Coutinho de Faria, Sérgio Machado Rezende, Luis Manuel Rebelo Fernandes, Odilon Marcuzo do Canto e Wanderley de Souza. O ex-presidente Mauro Marcondes Rodrigues enviou mensagem na qual destaca o papel histórico da insti- tuição em apoiar as universidades brasileiras e formar a comunidade científica nacional. Desde 2015, no entanto, os cortes orçamentários desenham um hori- zonte dramático. A liberação total da FINEP para Pesquisa & Desen- volvimento de novas tecnologias foi de 5,6 bilhões de reais em 2014. Daí para a frente, os números desabam. Em 2017 foram liberados 2,24 bilhões de reais. Em 2019, o aporte até aqui foi de apenas 913 milhões de reais. A instituição hoje vive uma asfixia que pode culminar com o seu fechamento definitivo. A FINEP é única no mundo e no Brasil. Com fundos reembolsáveis e não reembolsáveis, é um órgão de Estado capaz de dar suporte às várias dimensões das atividades científicas, tecnológicas e de inovação. Misto de agência de fomento e banco, apoiou ao longo de sua história, universi- dades e institutos de pesquisa, ao mesmo tempo em que oferecia apoio a empresas privadas. “Não existe no mundo uma congênere da FINEP. Ela só existe porque no tempo em que foi criada havia pouca burocracia e muita vontade de realizar”, desta- cou o ex-ministro Sergio Rezende. O ex-presidente Luiz Fernandes concorda e destaca não só o ineditis- mo da FINEP, como sua capacidade de impulsionar o país na direção do desenvolvimento. “É uma agência única, uma experiência singular no mundo, que nos permite combinar ação de crédito em infraestrutura das instituições de pesquisa e subvenção econômica para empresas nacionais. É insubstituível para um país que pretende se desenvolver e enfrentar os desafios da sociedade do conheci- mento, sobretudo com o advento dos novos padrões produtivos e tecno- lógicos do século XXI”, destacou o ex-presidente. Parte de um plano em curso para sufocar o investimento na educação, a FINEP é o elo mais fraco de três agências de fomento de ciência, tec- nologia e inovação. Como a FINEP, a Fundação CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conse- lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) também vêm sofrendo com cortes orçamentá- rios, pressões por decisões com base ideológica e não-técnica e suspensão de bolsas. A FINEP, no entanto, é a que é mais impactada pelos cortes or- çamentários. “Quando uma empresa pública não é dependente do Tesou- ro, ela precisa viabilizar sua sustenta- ção financeira ou não irá sobreviver. Isso deixa óbvio que a agenda em curso é de fechamento definitivo da FINEP”, alertou Luiz Fernandes. Fundada para administrar o Fun- do Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) no final da década de 1960, a FINEP sobreviveu a diferentes regimes e governos, de diversos matizes ideoló- gicos. Em todos eles, foi usada como combustível da ciência brasileira em um esforço de Estado para avançar na pesquisa e tecnologia, movimento obrigatório para qualquer país que pretende ser soberano. Caminho sem volta Criada quando a legislação permitia, a Finep é única no mundo e no Brasil. O momento enfrentado pela FINEP e demais entidades é agravado pela dificuldade de maior mobilização da sociedade. Mobilizar por hoje e pelo futuro O momento enfrentado pela FINEP e demais entidades é agravado pela dificuldade de maior mobilização da socieda- de. “O que está acontecendo é para acabar com a FINEP. Enquanto é tempo, temos que resistir e protestar, mostrar à sociedade que a FINEP não é de um partido ou de uma fac- ção ou tendência. Ela é da nossa sociedade, do interesse do nosso povo, do Brasil. Essa sessão se destina a levantar a moral dos funcionários da FINEP. Eles precisam acreditar na possi- bilidade de sobrevivência da instituição na qual trabalham”, apontou Pedro Celestino. Foi consenso no ato a necessi- dade de destacar a importância da FINEP para o país de hoje e do futuro. Os feitos do passado podem ajudar nisso. O ex-presi- dente Gerson Ferreira Filho ci- tou o financiamento da FINEP à Embrapa para que fosse criada a semente híbrida da soja que tornou possível a sua cultura em todo o país. “Graças a isso, hoje o Brasil produz dezenas de bi- lhões de toneladasde soja todo ano”, destacou Gerson. 9