Jornal do Clube de Engenharia 605 (Agosto de 2019) | Page 4
ENERGIA
O preconceito vem da falta de conhecimento
O desenvolvimento da matriz
energética brasileira tem sido tema
de importantes discussões no Clube
de Engenharia, e a energia nuclear,
alternativa ao uso de combustíveis
fósseis e mesmo à energia hidrelé-
trica, foi tema de um ciclo de quatro
palestras no dia 17 de julho. Par-
ticiparam Neilson Marino Ceia,
engenheiro eletricista, pós-gradu-
ado em Engenharia de Segurança
do Trabalho, Tecnologista Pleno
da Comissão Nacional de Ener-
gia Nuclear (CNEN) e subchefe
da Divisão Técnica de Engenharia
de Segurança (DSG); Eduardo Di
Blasi, engenheiro civil especialista
em Engenharia Nuclear e membro
da CNEN; Ricardo Fraga Gutter-
res, diretor substituto da CNEN; e
André Luis Ferreira Marques, mestre
(Universidade de São Paulo) e doutor
(Massachusetts Institute of Tech-
nology) em engenharia nuclear. O
evento foi promovido pelo Clube de
Engenharia, Diretoria de Atividades
Técnicas – DAT, Divisão Técnica de
Engenharia de Segurança – DSG e
Associação dos Fiscais de Radiopro-
teção e Segurança Nuclear – AFEN.
Alternativa limpa e segura
Neilson Marino Ceia apresentou
os potenciais da energia nuclear e
defendeu o seu uso seguro como
uma fonte estável à matriz energé-
tica. Para ele, é importante pensar a
energia nuclear enquanto aliada ao
desenvolvimento social, atuando na
segurança e na informação junto à
população — uma defesa também
feita pelos outros palestrantes. Ceia
lembrou que o tema é um dos que
serão tratados na 10ª edição do
Seminário Internacional de Energia
Nuclear (SIEN), que será realizado
em agosto no Rio de Janeiro.
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Eletronuclear
Biasi, está presente em todas as fases
do processo, sendo um dos núcleos
principalmente no que diz respeito à
fiscalização das estruturas e, inclusive,
levando em consideração o efeito de
fenômenos meteorológicos e geotéc-
nicos que podem comprometê-las.
“A falha do sistema estrutural ou de
contenção pode ser o evento inicia-
dor de um acidente nuclear/radioati-
vo”, alertou o especialista.
Informação para combater o
desconhecimento
É imperioso disseminar informação de qualidade junto à sociedade sobre os benefícios e
os protocolos de segurança que envolvem a energia nuclear.
Licenciamento e fiscalização
Ricardo Fraga Gutterres deu um
panorama da regulação do setor
nuclear no país, função desempe-
nhada pela Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN), autarquia
federal responsável pela orientação,
planejamento, supervisão e contro-
le do programa nuclear do Brasil.
“O objetivo é minimizar os riscos
associados ao emprego das radia-
ções ionizantes para fins pacíficos,
contribuindo, assim, para a proteção
dos trabalhadores, da população
geral e do meio ambiente”, dis-
se ele. Gutterres explicou que a
CNEN não é o único regulador da
área — o uso de radiação para fins
médicos, por exemplo, é regulado
também pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). Além
da regulação, a comissão atua no
mercado (produzindo radiofármacos
utilizados no setor médico), desen-
volve pesquisa, atua na formação de
recursos humanos, em atividades de
dosimetria (medição e controle) e
mesmo na construção dos depósitos
permanentes de resíduos nucleares.
O processo de licenciamento da
produção e uso de energia nuclear no
Brasil, baseado em rígidos padrões
impostos pela CNEN, foi tratado
por Eduardo Di Blasi, que integra a
CNEN. Ele explicou que as fases do
licenciamento vão desde o licencia-
mento do local até a aprovação final
para o início das operações, com rela-
tórios emitidos ao longo do processo
a fim de garantir a segurança. “Exis-
tem normas para reatores nucleares,
para as demais instalações não têm
normas específicas. Mas, quando não
tem uma norma nacional, a CNEN
permite que se lance mão de nor-
mas internacionais que estejam em
condições de uso no Brasil”, explicou
ele. A engenharia civil, elucidou Di
André Luis Ferreira Marques falou
sobre perspectivas para o uso de
energia nuclear no mundo, trazen-
do exemplos e abordando questões
como o risco aceitável no licen-
ciamento, a relação entre energia
nuclear e o mar, além do porte das
estruturas e o uso combinado de
sistemas auxiliares de segurança. “Na
minha visão, a energia nuclear vai,
nos próximos 50, 60 anos, deter 1/5
da produção de energia no mundo”,
analisou ele. “Principalmente ao se
pensar no benefício ambiental, da
medicina, da agricultura, da pro-
dução de materiais avançados, você
não tem como fazer isso sem energia
nuclear. É necessário”, explicou. Para
Marques, historicamente os países
que se desenvolveram só consegui-
ram esse feito com o uso de energia
nuclear. “O grande desafio para a
engenharia é como fazer esse uso
de forma inteligente. É a diferença
entre a luz e a escuridão”, disse. Dis-
ponibilizar informação de qualidade
junto à sociedade, explicando os be-
nefícios e os protocolos de segurança
para a energia nuclear, se torna, por-
tanto, imperioso. “Muito do precon-
ceito com a energia nuclear vem do
desconhecimento”, afirmou ele.