Jornal do Clube de Engenharia 590 (Maio de 2018) | Seite 6
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É urgente a
AFIRMAÇÃO DA
SOBERANIA
BRASILEIRA
São muitas as áreas em que é possível identificar as questões em que
o Brasil foi soberano – ou subserviente - ao longo de sua História.
Tais questões e níveis de soberania mudam de acordo com as
políticas implementadas por diferentes governos e vão da periferia
e total vassalagem até a postura internacional como um player
relevante e central.
O país oscila graças a uma elite que, historicamente, sempre foi
alinhada com interesses internacionais. O momento, no entanto, é
crucial para o país: nenhum governo ao longo da história do Brasil
independente foi tão descompromissado com os interesses nacionais.
Nenhum abriu mão de forma tão flagrante e dócil da nossa
soberania. Esse foi o tom do discurso do presidente Pedro Celestino
na abertura do segundo evento do ciclo organizado pelo Clube em
parceria com o Comitê Fluminense do Projeto Brasil Nação, que
permeou toda a discussão.
No encontro, soberania, ciência, diplomacia e energia estavam em
foco. Pensar a relação entre Ciência e Tecnologia, desenvolvimento
nacional e resistência à crise e ao desmonte da engenharia são
fundamentais para o surgimento de um Projeto de Nação Soberana.
Na mesa, três dos principais setores que interferem diretamente na
construção do país soberano estavam representados:
Leia mais no Portal do Clube de Engenharia: http://bit.ly/PainelSoberania
O PAÍS
Samuel
Pinheiro
A soberania é a capacidade que uma sociedade tem de se organizar de
acordo com certas normas de convivência social e impedir que outros
países interfiram fortemente, determinantemente, nos seus diversos
campos. Teoricamente, é um princípio das Nações Unidas. Na prática,
vivemos um sistema internacional imperial e não democrático. Ao
final da Segunda Guerra Mundial, os EUA exerciam uma hegemonia
extraordinária. Então, organizaram o mundo. O sistema político foi
moldado na ONU e ali se estabeleceu o Conselho de Segurança, com
os cinco estados que monopolizam a Força Militar. Organizaram o
sistema econômico criando, dentre outros órgãos, o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Mundial. Organizaram o sistema militar
através do Tratado de Não Proliferação.
Nessa ordem das coisas, há um sistema imperial. Os EUA
se consideram líderes do mundo, que estão acima do direito
internacional, já que o Conselho de Segurança não pode examinar
nenhuma questão em que haja um veto. E nesse sistema imperial,
a soberania é um problema. Há uma periferia desenvolvida pela
Europa, como Inglaterra, França, Alemanha, que se acha no direito de
ser consultada, o que nunca acontece. Depois, há uma periferia tipo
Espanha, Portugal. São resorts, grandes spas. Depois vêm as periferias
das ex-colônias, que é onde estamos, junto da África, Ásia... E do lado
de fora do Império estão os contestadores: a Rússia e a China. Dentro
da periferia há as províncias rebeldes, como a Venezuela, o Irã, a
Coreia do Norte, desenvolvendo mísseis e empurrando seus programas
nucleares à revelia do Império... E há as províncias submissas. O Brasil
hoje é uma província submissa.
O que estamos vivendo hoje é o maior ataque à soberania de nossa
história. Estamos permitindo que os interesses estrangeiros – leia-se
os interesses do Império – nos dominem por completo e temos que
lutar contra isso. Certamente, para isso, precisamos de democracia,
desenvolvimento, justiça social e soberania em um cenário onde o
poder está nas mãos de um governo comprometido não com o capital,
mas com o capital estrangeiro.
Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador
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