Jornal do Clube de Engenharia 590 (Maio de 2018) | Page 3
MAIO DE 2018
DEFESA
Novo marco na história nuclear brasileira
O novo marco na história da
indústria de defesa é um modelo em
tamanho real do equipamento que
deverá garantir a segurança da costa
brasileira e das áreas do Pré-Sal.
“Uma das funções do protótipo em
terra é a preparação de operadores
e sua qualificação operacional
perante a Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN). Esse é
um processo contínuo: preparação
e qualificação de um operador de
reator nuclear demandam cerca
de cinco anos, tempo que pode ser
menor no futuro”, destaca o Contra-
Almirante Ferreira Marques.
Para apresentar os avanços, a
Marinha promoveu uma visita de
órgãos de imprensa às obras do
Laboratório de Geração de Energia
Núcleo Elétrica (LABGENE), no
Centro Tecnológico da Marinha
em São Paulo (CTMSP), em
Iperó, interior de São Paulo, onde
“A ressurreição de Lázaro”. Essa foi a parábola bíblica usada pelo Contra-
Almirante André Ferreira Marques, diretor de Desenvolvimento Nuclear da
Marinha, para se referir ao marco simbolizado pela entrega, em três anos, de
um protótipo em terra, em tamanho real, do Submarino Nuclear Brasileiro.
Naval
Pensado 40 anos atrás, o projeto
foi construído ao longo de vários
governos. Desde a inauguração
da Usina Almirante Álvaro
Alberto, pelo então presidente
José Sarney, passando pelo grande
contingenciamento que o projeto
teve entre 1997 e 2007 e a perda
de fornecedores durante a crise
econômica, até o presente, o projeto
resistiu e não para desde 2007.
Protótipo em tamanho natural do Submarino Nuclear Brasileiro (SNB), no Centro Tecnológico da
Marinha em São Paulo (CTMSP), onde está sendo montado.
o protótipo está sendo montado.
Ali, todos os componentes, em
tamanho real, incluindo o sistema
de propulsão do submarino,
serão instalados no enorme setor
cilíndrico de aço, com 10 metros
de diâmetro, por cerca de 700
homens que se revezam em turnos.
A ideia é se certificar de que todos
os componentes do sistema caibam
e se encaixam perfeitamente. Os
principais equipamentos já estão
prontos. As construções civis
estão em 80% e a montagem
eletromecânica tem 20% de sua
construção finalizada.
Em quatro décadas o projeto
consumiu US$ 2,5 bilhões (cerca
de R$ 10 bilhões), em meio a
problemas financeiros e cortes de
verbas que resultaram em redução
de 50% na área de pessoal. A
perspectiva é de que até dezembro
de 2021, quando o submarino
“terrestre” equipado com o reator
nuclear entrará em funcionamento,
mais R$ 2,2 bilhões sejam
investidos. A versão definitiva, que
vai para o oceano ficará pronta entre
2028 e 2030.
O uso de protótipo em escala real,
auxilia a medir e testar sistemas
para a qualificação de métodos de
projeto e fabricação, operação e
manutenção, envolvendo materiais,
componentes eletroeletrônicos e
mecânicos, entre outros. “Somente
com o teste integrado, com tudo
funcionando conjuntamente é
que certos desempenhos podem
ser atestados antes de embarcar
um equipamento ou sistema no
submarino, prática comum na
indústria de sistemas avançados.
Nessa linha de ação, o LABGENE
é o protótipo em terra dos sistemas
de geração de energia e propulsão
a serem incorporados no projeto e
construção do SN-BR.
O protótipo pronto será o
resultado de um grande trabalho
integrado. Toda a parte nuclear
e sistemas auxiliares integram os
trabalhos do Programa Nuclear da
Marinha (PNM), voltados para o
LABGENE e para o Programa de
Desenvolvimento de Submarinos
(PROSUB). Assim sendo, o Centro
de Tecnologia da Marinha em
São Paulo (CTMSP) gerencia o
fornecimento do vaso do reator, os
geradores de vapor, as bombas de
circulação e outros equipamentos,
para geração de energia nuclear,
segundo critérios de segurança e
licenciamento nuclear e ambiental.
Além do LABGENE, o CTMSP
se encarrega de diversos assuntos
na área nuclear. Diferente do
PROSUB, o LABGENE
não participa do programa de
transferência de tecnologia
entre Brasil e França: todas as
tecnologias ali são nacionais. “Para
citar os trabalhos mais relevantes,
o CTMSP fornece: sistemas de
enriquecimento de urânio para
as Indústrias Nucleares do Brasil
(INB); urânio enriquecido para o
Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares (IPEN) voltado para a
produção de radiofármacos; sistemas
inerciais para a Petrobrás e MB;
e desenvolve materiais avançados
como aços especiais e fibra de
carbono para uso na indústria
nacional”, finaliza o Contra-
Almirante Ferreira Marques.
Link: https://bit.ly/2Lo8myj
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