Jornal do Clube de Engenharia 583 (Outubro de 2017) | Page 3

OUTUBRO DE 2017 MINERAÇÃO Setor exige discussão para implementação das mudanças propostas Após muitos anos de debate sobre a questão da legislação que regula o setor mineral no Brasil, medidas provisórias recentes alteram o Código de Mineração e reacendem o debate A modernização da legislação que regula a área da mineração no Brasil é uma demanda antiga. O Código de Mineração, de 1967, vinha sendo criticado por não ser atrativo para os exploradores do setor e por ser burocrático e atrasado em relação à legislação no resto do mundo. Em determinados aspectos, empresas ocupavam um limbo regulatório e a burocracia inviabilizava explorações. Sem diálogo com os atores envolvidos, o governo federal anunciou no dia 25 de julho as Medidas Provisórias 789, 790 e 791 que, juntas, alteram 27 dispositivos do texto de 1967. O material usado como base para as MPs foi desenvolvido nas décadas anteriores: do final dos anos 1990 até início dos anos 2000, as reformas regulatórias estavam em pauta no setor. No Congresso, as MPs já receberam quase 500 emendas, prenúncio de um assunto que está longe de ser pacificado. Principais impactos No Clube de Engenharia, o tema foi pauta de dois eventos recentes. Em 21 de setembro, a Associação Profissional de Geólogos do Rio de Janeiro (APG-RJ) promoveu o evento “As mudanças propostas na legislação mineral e seus impactos aos profissionais e às empresas”. Com o apoio da Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e a Divisão Técnica de Recursos Minerais (DRM), o debate se somou ao anterior, de 5 de setembro, quando Gilberto Calaes, doutor pela UFRJ em Geologia Regional e Econômica e diretor e consultor da Consultoria de Empreendimentos Ltda. (ConDet), com atuação há mais de 40 anos na indústria mineral quanto mais uma economia se integra, mais ela se amplia e mais benefícios podem ser gerados, desde que isso ocorra de forma bem estruturada, que preserve sempre os interesses nacionais”, diz Calaes. Para deixar clara a extensão territorial dessa faixa, os maiores territórios da América do Sul são Brasil, seguido da Argentina e, em terceiro lugar, a faixa de fronteira em questão. Gilberto Valaes, doutor pela UFRJ em Geologia Regional e Econômica: “O setor mineral é importan- tíssimo e está sofrendo alterações profundas. Elas têm uma incidência muito importante na revitaliza- ção da economia mineral no Brasil”. em entidades públicas e privadas, fez palestra em um encontro promovido pela presidência. “Vivemos o momento do desmonte da economia e da engenharia brasileira. É um momento crucial. O setor mineral é importantíssimo e está sofrendo alterações profundas. Elas têm uma incidência muito importante na revitalização da economia mineral no Brasil”, destacou Sebastião Soares, primeiro vice-presidente do Clube de Engenharia, na abertura da palestra de Calaes. No evento da Associação Profissional de Geólogos do Rio de Janeiro, o presidente Pedro Celestino também destacou a importância do debate. “Toda essa estrutura que vem sendo formada e desenvolvida desde os anos 1930, e particularmente desde os anos 1970, está hoje ameaçada de colapso, porque o grupo que se apossou do poder tem como objetivo a destruição sistemática de tudo que foi feito nesse país dos anos 1930 para cá. É necessário que tenhamos um projeto nacional de preservação das nossas riquezas para que sejam exploradas em benefício do nosso próprio povo”. Desnacionalização Calaes entende que após longa espera o novo código poderá até melhorar o clima para investimentos no setor. “Foi uma espera que criou instabilidade no meio investidor em geral. Muitas empresas passaram a retardar investimentos e melhorias nos empreendimentos. Consequentemente, retardou-se a geração de benefícios para a sociedade, com geração de empregos e aumento de arrecadação tributária”, explica Gilberto Calaes. Outros pontos nos textos, no entanto, preocupam não só os empresários, mas a sociedade civil como um todo. Entre as preocupações apresentadas por Calaes está a Lei nº 9.314/1996. Não regulamentada, a lei incentiva investimentos na indústria mineral e libera a exploração de recursos minerais em faixas de fronteira do país a empresas estrangeiras. “A preocupação com a desnacionalização do setor é natural. O importante é que essa integração se faça sem perda de soberania, porque Em relação ao meio ambiente, uma das medidas oficializa a responsabilidade da empresa mineradora pela recuperação ambiental, e em casos de sanções, as multas vão variar de 2 mil a 30 milhões de reais, podendo ser dobradas em caso de reincidência. Para Edson Mello, geólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é uma mudança positiva, e obriga principalmente as pequenas e médias empresas a “trabalharem direito”. Como ponto negativo, ele comentou a pesquisa mineral: a nova proposta permite a extração durante o período de autorização da atividade. Segundo o geólogo, as ferramentas de “guias de utilização” são autorizações precárias. Mudanças tramitam No Congresso, as Medidas Provisórias seguem em tramitação para serem aprovadas em definitivo ou não. Até agora, já receberam quase 500 emendas dos deputados, prenúncio de um assunto que está longe de ser pacificado. Assista à palestra no Youtube e veja a apresentação de Calaes em http://bit.ly/mineracao_calaes 3