Jornal do Clube de Engenharia 578 (Maio de 2017)) | Page 12
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CIDADE
Ninguém será responsabilizado?
O Clube de Engenharia
acompanhou de perto, foi referência
para a imprensa e promoveu
inúmeros debates quando, em
janeiro de 2012, três prédios
desabaram no Centro do Rio
matando 22 pessoas. Edição especial
do jornal do Clube foi lançada
em fevereiro daquele ano e uma
comissão interna especializada foi
criada com profissionais com ampla
experiência em projetos e estruturas.
Cinco anos após o desastre, o
Tribunal de Justiça do Rio absolveu
os únicos dois réus indiciados
como responsáveis pelas quedas.
Especialistas criticam a decisão e
comentam mudanças na legislação
após o episódio.
Impossível esquecer
A comoção foi nacional. Além
dos mortos, dezenas de escritórios
foram completamente destruídos,
e seus donos acumulam dívidas
até hoje. A principal suspeita
recaiu sobre uma obra no nono
andar do Edifício Liberdade, de
20 andares, que caiu levando mais
dois prédios vizinhos. Feita sem
acompanhamento de engenheiros,
teria abalado a estrutura do
prédio. O proprietário da empresa
Tecnologia Organizacional, Sérgio
Oliveira, e uma funcionária que
gerenciava a obra sem formação
para tal, Cristiane Azevedo, foram
indiciados por homicídio culposo.
Em 25 de abril deste ano, no
Edifício Liberdade: cinco anos após queda, especialistas criticam absolvição dos réus
Remoção de escombros dos prédios que desabaram em 2012.
entanto, o desembargador Paulo de
Oliveira Lanzellotti, da 31ª Vara
Criminal do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, absolveu os réus. O
próprio Ministério Público Estadual
sugeriu falta de provas.
Justiça para quem?
A decisão do TJ-RJ é criticada
por especialistas. “Os argumentos
que vi nos jornais são todos falsos.
Fiquei triste e descrente da justiça”,
lamenta o conselheiro Manoel Lapa,
vice-presidente do Clube na ocasião.
Os laudos acatados pelo tribunal
apontaram, por exemplo, que a
sobrecarga causada pelo acréscimo
de cinco andares ao edifício poderia
ter facilitado a queda, e não a
reforma. Manoel Lapa contesta:
“O acréscimo aconteceu, mas há
70 anos. Se fosse para o prédio cair
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por isso, não aconteceria só agora”,
diz ele. Outro argumento, de que
as obras do Metrô da Linha 1, nos
anos 1970, poderiam ter prejudicado
a estrutura do prédio, é contestado
por Luiz Carneiro, chefe da Divisão
Técnica de Construção do Clube
de Engenharia. “O escoramento
que foi feito ali não dá deformação
nenhuma. Eu acompanhei a obra e
o metrô tem tudo isso registrado”,
critica.
Mudança na legislação
Proposta da comissão criada no
Clube transformou-se em lei,
aprovada em 2013 na Câmara
de Vereadores do Rio. A Lei da
Autovistoria (Lei Complementar
nº 126/2013) tornou obrigatórias
vistorias periódicas, no máximo
a cada cinco anos, em todos os
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imóveis da cidade – com exceções,
como alguns tipos de edificações
residenciais e imóveis com até
cinco anos de ocupação. São
verificadas conservação, estabilidade
e segurança dos prédios, e um laudo
técnico, emitido por engenheiros,
arquitetos ou empresas autorizadas,
deve ser comunicado à Prefeitura
pela Internet. Os dados podem
ser acessados por qualquer pessoa.
Em reformas internas tornou-se
obrigatório o acompanhamento de
profissional habilitado – o que não
acontecia no Edifício Liberdade.
Levantamento da Prefeitura do
Rio mostrou que, em janeiro de
2017, apenas 33% (45 mil, no
total) dos imóveis encaixados na
lei haviam feito a autovistoria. A
lei prevê multa de cinco vezes o
valor de referência (VR) do IPTU
em caso de descumprimento.
Francis Bogossian, presidente da
Academia Nacional de Engenharia
e ex-presidente do Clube de
Engenharia, critica a situação. “A
Lei de Autovistoria não mudou a
cultura e a cabeça das pessoas sobre
a necessidade de engenheiros em
obras. Não estamos aprendendo com
nossos erros”, critica. Luiz Carneiro
concorda, apontando que é preciso
mais esforços para se evitar tragédias
como a do Edifício Liberdade. “Os
proprietários estão pagando por
laudos mal feitos. No CREA-RJ
já pegamos profissionais com 200
laudos por mês. Por enquanto, a lei
não funciona”, lamenta.
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