Jornal do Clube de Engenharia 572 (Novembro de 2016) | Page 9
Institucional
Construção coletiva de um novo momento
A universidade sempre será ambiente de disputa de espaços e mentes ao longo da construção cidadã que caminha paralelamente à
formação profissional oferecida pelos cursos.
Essa é a visão de boa parte
dos estudantes que vêm se
aproximando do Clube nos
últimos meses. Levar até essa
arena as bandeiras desta instituição
centenária está entre os objetivos
que têm sido perseguidos pela
Secretaria de Apoio ao Estudante
de Engenharia (SAE). A agenda
de eventos, encontros, reuniões
e visitas técnicas é a cada dia
mais movimentada. No último
dia 31 de outubro o presidente
Pedro Celestino e o conselheiro
e coordenador da SAE, Stelberto
Soares, receberam lideranças
estudantis das universidades do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
Federal Fluminense (UFF),
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Estácio de Sá e Veiga de Almeida.
Em pauta, um diagnóstico sobre
o momento que o país vive:
as rupturas institucionais, as
características do parlamento hoje,
o capital financeiro disseminado
por diferentes partidos, e, entre
tantos outros problemas, a
pulverização de forças, claramente
expressa no fato de mais de um
terço dos deputados representarem
pequenos partidos, dificultando o
avanço de reformas institucionais.
Os impactos do quadro atual
sobre a engenharia são nefastos,
especialmente na perspectiva
do desemprego. A proposta do
Clube, que vem encontrando eco
entre os estudantes da SAE nas
universidades que participam
da secretaria, é aglutinar o
pensamento dos engenheiros
para resistir ao desmonte do país
e firmar posição intransigente
na ampliação da luta pela
estabilidade da democracia e
da manutenção dos direitos. Os
estudantes concordam e participam
ativamente em canais próprios
de comunicação, em especial as
redes sociais. Entendem que os
debates devem partir de pautas em
defesa de interesses concretos, sem
abrir mão, no campo político das
propostas e meios para mobilizar
as categorias de forma a organizálas em torno de uma plataforma
que possibilite a afirmação da
democracia e da soberania.
O desafio principal no trabalho de
mobilização que os atores sociais
têm encontrado é a mobilização
de grupos diversos em torno de
uma pauta comum. Stelberto,
entre outros temas, destacou a
necessidade da construção de
consensos e usou a última eleição
no Clube como exemplo de
como isso é possível, lembrando
que a unidade na eleição da
atual diretoria demonstrou que é
possível unir grupos com distintas
visões na defesa de uma bandeira
comum. Pela primeira vez, em
defesa da Engenharia nacional,
em um pleito histórico, o Clube
de Engenharia viveu uma eleição
para a sua direção marcada pela
unidade. Foi consenso no encontro
da SAE que, independentemente
de posições ideológicas, é ponto
comum que um país como o Brasil
não pode ser apenas um fornecedor
de commodities e muito menos
que sua população possa abrir mão
de seus direitos.
Fruto do trabalho da
SAE, entre setembro
de 2015 e novembro
de 2016, o Clube de
Engenharia abriu suas
portas para cerca de
1.100 sócios aspirantes
Segundo Lucas Getirana, presidente
do Diretório Acadêmico Octávio
Cantanhede (DAOC), na UFF,
há um processo de esvaziamento
político nítido em curso. “Nossa
eleição para o DAOC contou com
mais de 2.000 votos. A última
assembleia tinha 30 pessoas. A gente
nota nos calouros uma dúvida se o
engajamento político é uma coisa
boa, resultado do estranhamento que
a engenharia vem enfrentando no
país por conta do envolvimento de
algumas empreiteiras em casos de
corrupção”.
O desinteresse também é notado
nos pavilhões da UERJ. Mariana
de Lima Mello, de Engenharia
Civil, apontou um retrocesso
no interesse dos estudantes pela
política. “Há um desencantamento,
uma sensação geral de que todos
são iguais. Há dificuldade em
debater e esse é um momento
em que isso é necessário.
É preciso pensar métodos
para, de fato, mobilizar as
pessoas em torno de temas
mais impactantes, como a
privatização das universidades
públicas”. Entre as propostas
surgidas no debate está o
desmembramento da PEC
241 (PEC 55 do Senado
Federal) em pontos que
impactam diretamente a vida
dos estudantes e seu futuro
profissional.
Para José Ricardo Domingues,
a sombra do desemprego e de
um futuro incerto para o país já
chega às salas de aula. Estudante
de Engenharia Civil da Estácio
Norte Shopping, ele destaca que
nos últimos três anos houve uma
redução brusca na busca pelos
cursos. “Nós costumávamos
ter três turmas de calouros
com cerca de 90 alunos. Hoje
temos uma só, com cerca de 80
alunos”, destacou. Na UFRJ,
o adiamento da conclusão do
curso tem virado prática.
A saída para Natalia Huppes
Borges, estudante de
Engenharia Química, é
preservar seus estágios e esperar
por dias melhores enquanto
torna a experiência universitária
a mais longa possível.
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