Jornal do Clube de Engenharia 571 (Outubro de 2016) | Page 5

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OUTUBRO DE 2016
( Finep ) passaram a patrocinar , desde 2006 , programas de estímulo à formação de engenheiros . No início da década de 2010 , a procura por cursos de Engenharia cresceu exponencialmente , chegando a ficar à frente de cursos como Direito e Administração .
Os milhares de estudantes que buscaram a engenharia no período de alta estão agora se formando e alimentando um mercado que recebe anualmente grande contingente de profissionais disponíveis . Para recém-formados e estudantes próximos da graduação , o resultado da combinação da formatura com mercado desfavorável assusta . Lucas Getirana de Lima , estudante de Engenharia de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente e presidente do Diretório Acadêmico Octavio Cantanhede , da Universidade Federal Fluminense ( UFF ), declarou que alguns estudantes não têm conseguido concluir seus cursos . “ Temos a disciplina obrigatória de estágio e não há mais ofertas no mercado . Isso tem sido um entrave para chegar ao mercado ”, relata . Ainda segundo Lucas a incerteza é comum entre os alunos hoje , mas há também esperança . “ A falta de perspectiva de contratação gera dúvidas se os recém-ingressos devem ou não permanecer nos cursos de Engenharia . Mas há também a compreensão de que a engenharia é a faísca do motor de qualquer país e que para o Brasil voltar a crescer a engenharia cumprirá um papel fundamental no processo . Esperamos que isso seja realidade em 2018 e 2019 ”, declara .
Perspectivas nubladas
Analistas otimistas apontam que as taxas de desemprego continuarão subindo até o fim de 2016 e que deverão se estabilizar no primeiro trimestre de 2017 . O presidente da Fisenge está entre os que acreditam que cedo ou tarde , principalmente na área das engenharias , o desemprego irá diminuir . “ O desenvolvimento do país passa pela engenharia , não tem jeito . A menos que algo muito extremo aconteça ”, ressalta . O fator extremo , segundo Clovis Nascimento , em tramitação no Congresso Nacional desde junho é a Proposta de Emenda à Constituição , PEC 241 , enviada pelo presidente Michel Temer , que congela o orçamento da União por 20 anos . “ O que se busca com essa proposta é decretar a completa paralisação do Estado como indutor do desenvolvimento . É um desastre absoluto . Não dá nem para imaginar os resultados práticos ”, já alertava Clovis .
Propostas da PEC do Teto

Dieese analisa o novo regime fiscal e seus possíveis impactos

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos ( Dieese ) produziu cuidadoso documento de análise técnica da PEC 241 no qual afirma nas considerações finais : “ A aprovação da PEC 241 / 2016 deverá ter impacto direto no poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores já que , atualmente , no caso dos servidores públicos , a Lei de Responsabilidade Fiscal ( LRF ) determina que os critérios de aumento dos gastos com pessoal se deem com base na Receita Corrente Líquida ( RCL ). Já no caso dos trabalhadores da iniciativa privada , além do impacto com a possível alteração na metodologia do reajuste do Salário Mínimo , os trabalhadores para quem ele é referência podem vir a ter seus ganhos reais comprometidos . Toda a população brasileira irá ser penalizada com a muito provável redução , em quantidade e qualidade , dos serviços públicos de saúde e educação (...) Com a nova regra apresentada na PEC , fica notória a possibilidade de redução da destinação de recursos públicos para estas áreas . Nestes casos é de se esperar que os recursos mínimos garantidos na Constituição Federal
Dia 10 de outubro a PEC 241 foi aprovada pela câmara dos deputados por ampla maioria , dando início , em regime acelerado , ao ajuste fiscal a partir do teto para os gastos públicos . A proposta atrela o crescimento dos gastos ao índice de inflação registrado em 12 meses até julho do ano anterior . A vigência seria de 20 anos , podendo o presidente da República , após o décimo ano , alterar o formato de correção das despesas públicas . A ideia é tentar impedir o crescimento real do gasto primário de um ano para o outro . Com aplicação máxima igual à inflação do ano anterior , o que se tem é apenas a atualização monetária . Críticos à proposta apontam as consequências : a PEC paralisa políticas de desenvolvimento com o aporte do Estado e representa o desmonte geral do Estado brasileiro , especialmente em suas políticas públicas e programas sociais . Plenária da Câmara dos Deputados que aprovou a PEC 241 .
acabem se efetivando como um limite máximo , já que ficará a critério do Congresso Nacional definir valores superiores para essas áreas , respeitando o limite total de gastos . Ou seja , poderá provocar ainda o comprometimento da execução de outras políticas públicas , cuja finalidade principal é atender às demandas da sociedade . A proposta de fixação do valor real das despesas ao patamar de 2016 incita uma questão importante não explicitada pelo governo : em caso de recuperação da arrecadação , com possível retorno de aumentos reais da receita como se verificou ao longo de vários anos na última década , qual deverá ser o destino do superávit ? Seria utilizado na amortização da dívida pública ou na redução de impostos ? O que parece ficar evidente é que as medidas apresentadas seguem a linha de redução do papel do Estado . A limitação dos gastos públicos determinará , também , a limitação das funções do setor público enquanto fomentador de investimentos , provedor de direitos sociais fundamentais e garantidor de distribuição da renda ”, conclui o Dieese .
Foto : Agência Brasil

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