Jornal do Clube de Engenharia 565 (Abril de 2016) | Page 3

ABRIL DE 2016 DEFESA Estratégia e tecnologia de ponta em xeque Foto: www.brasilemdefesa.com Considerada estratégica em todo o mundo, a área da Defesa vem se caracterizando, desde a década de 1980, por uma crescente perda de espaço genuinamente nacional para a dominação do capital estrangeiro. Conteúdo nacional: lançador múltiplo de foguetes e mísseis, modelo Astros II/2020. Estratégica no mundo, a área da Defesa se caracteriza, desde a década de 1980, pela crescente perda de espaço genuinamente nacional. A entrada massiva de capital estrangeiro no parque industrial brasileiro, predominantemente israelense, foi marcada por uma profunda desnacionalização do setor. Neste contexto, em um parque formado majoritariamente por pequenas empresas com grande potencial tecnológico, merece destaque a Avibras, a mais importante empresa genuinamente nacional da indústria de equipamentos militares de alta tecnologia. Mais que uma sobrevivente, seu histórico prova que, para além da questão estratégica, empresas nacionais do setor são lucrativas e, por isso, um ótimo negócio para quem as compra: a receita bruta cresceu 8,6 vezes entre 2012 e 2016, de 154,6 milhões para 1,33 bilhão de reais. Segundo seu presidente, Sami Hassuani, o segredo é o investimento em desenvolvimento de tecnologia nacional avançada nas áreas de aeronáutica, espaço, eletrônica e veículos de defesa. “Investimos 25% do nosso faturamento em pesquisa e desenvolvimento, 15% na forma de contratos com as Forças Armadas e 10% com capital próprio”, explica. O crescimento se deu em um cenário onde poucas empresas de defesa conseguiram cruzar da década de 1980 para a década de 1990. “Uma combinação de fatores, como a sucessão de planos de governo e planos econômicos muito nocivos à indústria reduziram o ritmo do Brasil. Com o câmbio congelado, quem exportava sofria muito”, conta Sami. Outros fatores conjunturais apontados são o fim da Guerra Fria, que colocou no mercado todo o armamento que sobrou do conflito, derrubando os preços, e a redução expressiva no orçamento do Brasil para a defesa. Além do que é contratado, há outro valor que é abarcado pela compra das empresas: o conhecimento nacional. Técnicos e engenheiros brasileiros respondem, a partir de então, aos interesses e estratégias dos governos estrangeiros no desenvolvimento de tecnologia bélica. Empresas menores, de grande base tecnológica, hiperespecializadas em uma tecnologia-chave não resistem às crises. A saída é se deixar comprar por uma estrangeira. Outra característica é a dependência inicial das compras no país. Ao desenvolver um novo produto, as primeiras unidades precisam ser do Brasil, que paga o desenvolvimento e compra uma pequena série, permitindo a partir daí a exportação de grandes séries. O motivo: nenhum país investiria no desenvolvimento de tecnologia militar de outro país, mas, uma vez desenvolvida, se o produto se destaca pela qualidade, passa a ser vantajoso comprar. O desenvolvimento de tecnologia de ponta 100% nacional tem sido a saída da Avibras para se manter independente e garantir que sua produção não seja descontinuada em caso de boicote estrangeiro. A autonomia – que além de um investimento seguro para quem compra, garante vantagem estratégica para o Brasil – vem do domínio das áreas aeroespacial, de engenharia mecânico-veicular, engenharia química, eletrônica, softwares e telecomunicações. “Quando um novo projeto está em desenvolvimento selecionamos cerca de 15 tecnologias críticas envolvidas e buscamos parceiros e fornecedores. Se não há fornecedores suficientes para garantir a segurança do fornecimento, preferimos desenvolver a tecnologia dentro de casa”, explicou. Foi o caso do Falcão, Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), em desenvolvimento. Manter pessoal capacitado na equipe é outro diferencial. “Uma multinacional não precisa de cabeças pensantes no Brasil. Toda a tecnologia é desenvolvida na matriz. Os profissionais que detêm o conhecimento são demitidos e vão para outras áreas. Em algum tempo, estão destreinados, desmotivados e os perdemos”, lamenta Sami Hassuani. O principal produto da Avibras é o sistema Astros, de artilharia de foguetes e mísseis. A empresa detém 25% do mercado mundial, a mesma participação dos Estados Unidos, seguida da Rússia (20%), China (10%) e outros países, entre eles Turquia e Israel (20%). Com capacidade de lançar foguetes terra-terra entre 9 e 300 Km, o sistema já está em fase de produção de versões mais modernas. Cada bateria da família Astros II é composta de seis caminhões lançadores de foguetes, mais seis veículos remuniciadores e outro com sistema de radar e meteorologia para controle de tiro. O alto valor agregado faz com que os carros custem de 1 a 7 milhões de dólares. Em fase de certificação, encontra-se, ainda, uma aeronave de pilotagem remota denominada Falcão, que é destaque entre os novos projetos em desenvolvimento. Nascido da cooperação entre Avibras e Finep, o Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) Falcão coloca o Brasil entre os países que produzem drones militares. 3