Jornal Brasileiro de Auditoria em Saúde JBAS Ed 2021 01 | Page 12

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médicos , futuros companheiros de atuação ; representantes de entidades irmãs , como a nossa amiga Enf . Helena Romcy , presidente da Associação Brasileira de Enfermeiros Auditores ( ABEA ) e três queridos convidados , Dr . Rogério Scarabel , ex-Presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar ( ANS ), na ocasião do evento , ainda ocupando a Presidência da Agência , Dr . Omar Abujamra , Presidente da Unimed do Brasil e Dr . José Roberto Tebet , ex-presidente da ABAM , Associação Brasileira de Auditoria Médica , um dos embriões que resultou na SBAM atual , representado pelo querido amigo Dr . Marlus Volney de Morais , nos reunimos , ainda que virtualmente , para marcar a refundação da nossa Sociedade . E a discussão foi muito profícua , além de emocionar muitos dos colegas auditores da velha guarda , que tanto ansiaram por este momento . E falamos muito sobre o papel do médico auditor . Voltando à nossa discussão , é natural que qualquer profissional busque otimizar os seus rendimentos . Não há nenhum problema nisso – gostaria , inclusive , de nem ter que afirmá-lo . Mas é conhecido , também , que o sistema no qual estamos inseridos , de recompensas e restrições , leva a distorções que , quando vistas de fora , são muito difíceis de explicar . Os exemplos são muitos , mas restrinjo-me , pelo espaço , ao que estudei durante o meu doutoramento : no tratamento das
F O T O D E M A R T I N O S I L V E I R A metástases ósseas com radiação , inúmeros estudos randomizados já mostraram a equivalência de uma
fração ao tratamento dividido em vários dias . Acontece que o médico radioterapêuta , na maior parte do mundo , é remunerado também pelo número de sessões . Construiu-se , então , toda uma linha argumentativa em defesa desta última estratégia , desmentida por mais de 25 estudos randomizados ( que outra controvérsia médica gerou tantos estudos redundantes ?). E observamos que , quando alteramos a forma de remuneração , sem ter sido publicado nenhum estudo inovador ( aqueles mais de 25 , foram , de fato , suficientes ), definindo um valor fixo baseado no diagnóstico , independente do número de sessões , o tratamento com dose única passa a ser o mais utilizado . Construímos esta experiencia baseando-nos em um outro estudo semelhante , feito na Bélgica , na virada do milênio . Lá , não nos surpreende , os resultados tinham sido os mesmos . Depois da desvinculação entre remuneração e número de sessões de radiação , a dose única também passou a ser a estratégia mais prevalente no belo país ao norte da França , onde se bebe uma excelente cerveja . É evidente que não houve , nunca , nenhuma tentativa de culpabilização dos profissionais de saúde . Os economistas ( e os psicólogos ) sabem , desde os seus primeiros passos , na Universidade , que o ser humano responde a estímulos . E os estímulos em saúde estão aí . Nós , médicos , é que não estamos muito treinados para observá-los de uma maneira isenta . Imagino , até que nenhum outro grupo profissional ( à exceção óbvia dos já citados ) tampouco esteja . Este sistema de incentivos utilizado hoje é ruim ? É . E isso , também , é um consenso para os economistas da saúde . A remuneração baseada na quantidade ( e , nem sempre , na qualidade ), pode levar a desperdício , à hiperutilização do sistema . Não é sustentável . Há alguma solução perfeita ? Não . O inverso também é ruim . O pagamento por “ pacotes ”, quando se considera um valor fixo para uma , por exemplo , patologia ou tratamento desconsidera as complexidades inerentes a um paciente específico . E pode ter , como resultado , também o inverso : pacientes mais graves recebendo menos cuidado do que necessitam . É como se eu aplicasse a dose única naqueles poucos pacientes que precisam de mais frações de radiação . Talvez a resposta esteja na remuneração por “ valor ”. Por resultados . Quanto mais valor entregamos ao paciente , mais valor também deveríamos receber em troca . Mas isso é mais fácil dito do que feito . É extremamente complexo mensurar performance . Não é à toa que o problema que descrevo acima , de longa data conhecido , não tenha sido satisfatoriamente resolvido até os dias de hoje . Embora muitas tentativas existam , neste sentido . Umas com mais , outras com menos sucesso .