Gilberto Candido
TRINTOLESCÊNCIA
Respeito é bom, mas nem sempre alguém gosta.
É de praxe que no âmbito hoteleiro, os atendentes recebam
os jovens e os mais idosos hóspedes, tratando-os por “senhor”
ou “senhora”. No ambiente joalheiro, também, serão raríssimas
as pessoas que se importarão por serem chamadas dessa forma,
entendendo se tratar de uma mera formalidade casual.
Complicado mesmo, é enfrentarmos adversidades no nosso cotidiano que requerem abordagem de fonte renovável. Estou
falando dos “adolescentes”, de trinta anos de idade ou mais.
É demasiado compreensível que um VERDADEIRO
adolescente se entenda; seja entendido — ou confundido —
muitas vezes, como sendo uma criança ou um adulto,
dependendo das circunstâncias.
Entretanto, se você imagina estar fazendo bom uso de toda
a sua boa educação, ao tratar uma transeunte qualquer de trinta e
tantos anos, por “senhora”, você poderá estar queimando o seu
filme com altas temperaturas de iradas efervescências, por esta
sentir-se profundamente ofendida na sua estimável e intocável
idade secreta. Porém, se optamos por uma ação igualmente educada tratando a mesma pessoa trintona por “você”, a coisa poderá complicar-se ainda mais, por esta pessoa achá-lo petulante,
folgado e moderninho demais pra dirigir-se a ela com tamanha
intimidade.
São as voltas que o mundo dá. Há até os caprichos onde a
vida reporta um idoso às suas mais infantis molecagens capazes
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